13 janeiro 2008

Toma um chá que passa










O chá é uma instituição na minha família. Tanto para as dores do corpo quanto as da alma, um bom chá pode fazer milagres!



Lembro-me com saudade da minha avó, indo a qualquer hora do dia ou da noite para o quintal atrás de algumas folhas, isso ao menor sinal de indisposição de alguém da família. Não sei se pelo ato carinhoso de colher a erva, esperar a água ferver, deixar descansando por alguns minutos, até que os princípios ativos se desprendam, depois coar, passar de uma xícara a outra até que esfrie...



Dá trabalho? Todo cuidar dá trabalho, mas é tão bom. Quem recebe sente a afeição da pessoa que preparou. Esses atos tão simples que a modernidade nos privou. É muito diferente de pegar um saquinho, colocar no copo e levar ao microondas.



O ritual do chá merece atenção, merece devoção. Acredito que é essa a palavra que mais carecemos nos dias de hoje: devoção. Devoção implica sair da esfera do individualismo para a esfera do outro, do semelhante, criar empatia, sentir o que o outro sente, perceber o que o outro gostaria que percebêssemos. Se maravilhar em compreender que é muito bom ser cuidado, mas é melhor ainda cuidar.



Confio que muito além do efeito placebo, o ato de oferecer um chá a quem queremos bem, também auxilia na melhora física de muitos sintomas, afinal as plantas possuem princípios químicos terapêuticos comprovados. Tanto é verdade que não se deve sair por ai tomando qualquer chá. Há, além do mais, os princípios sutís, aquela energiazinha que poucos percebem, mas que existe. As plantas são uma fonte direta de energia da natureza para nós, sem ser processada como acontece com vários outros alimentos. Estou falando daquelas folhas verdinhas, que quer sejam colhidas em casa ou compradas na feira e no mercado, receberam a exposição ao sol, à chuva, ao orvalho, cresceram em contato direto com a terra.



Não há intermediários. No ato de tomar uma xícara de chá recebemos os princípios ativos da planta, sua energia sutil e o amor de quem prepara. Por isso, é certo, muitos dos males que nos afligem no dia a dia passariam como que num passe de mágica, se parássemos alguns minutos para sentar, sentir o perfume e saborear uma quente é acolhedora xícara de chá, se não der para ser acompanhado, faz-se o ritual sozinho, por que não? O amor tem que começar de nós para nós mesmos, depois se estende aos que estão a nossa volta.