10 fevereiro 2009

Separação



Muitos (ou pelo menos os mais corajosos!) me perguntam o motivo pelo qual me separei.

Neste ponto sou uma pessoa difícil! Pois acredito dever satisfação a bem poucas pessoas neste mundo.

De modo que a primeira resposta que me faz cócegas na língua é: "Não é da sua conta! ". Contudo, jamais daria essa resposta. Não para manter a fama de gente boa e bem educada, pois não há nada mais inútil que tentar agradar a todos!

Não dou tal resposta pelo simples fato de respeitar a simplicidade, ou em outras palavras, a ignorância, de algumas pessoas. Para quem saber o que acontece na vida alheia é sua única, e pobre, razão de viver.

Sou pela tolerância!

É difícil explicar, ou convencer, que não se está deixando a relação porque apareceu uma terceira pessoa. Aliás, não sei o por quê de os seres humanos gostarem tanto de histórias de traição, ou seriam histórias de amores arrebatadores capazes de fazerem desmoronar anos de casamento?

Também não me sinto tentada a justificar apontando as centenas de falhas e defeitos do ex-cônjuge, pois teria que falar também das minhas centenas de falhas e defeitos! E, no final das contas, tolerar "tantas falhas" por 17 anos não seria virtude alguma, nem para ele e nem para mim. Melhor calar. Menos feio.

Após anos de convivência pequenas desculpas não colam mais! Talvez por isso, não "colarem mais" que o casamente se desfaz. Ou porque nos fragmentamos em tantos "eus": o "eu-mãe", "eu-esposa", "eu-amiga", "companheira", "filha", "dona-de-casa", "profissional", "nora"...que fica difícil nos achar e saber quais "eus" queremos, de fato, assumir. Confuso, não?

Me perdi pelo caminho. Não soube fazer um belo mosaico dentro das diversas funções que assumi dentro do modelo de casamento que fui construindo ao longo dos anos.

Quem sabe consiga fora, com os cacos que restaram dessas várias "patrícias"?

Mas, difícil mesmo é explicar que 'adeus' nem sempre quer dizer 'desamor'. E que 'sim' não necessariamente significa 'amor'.

Que relacionamentos não são feitos de regras matemáticas: soma-se um rapaz bonzinho + uma moça boazinha e, pronto, eis aí uma união perfeita!

Há um momento em que o mundo, tal qual o conhecemos, parece submergir. Tudo deixa de fazer sentido. Vira do avesso.

E como é difícil reconhecer e, o pior ainda, admitir, que não se deseja mais estar casada!

Ao menos para mim foram meses de angústia, de um debate interno interminável e lágrimas que pareciam nunca se esgotar.

Também não escapei de me fazer, pelo menos meio milhão de vezes, a famigerada pergunta: "por quê?". Mas eu posso fazê-la, afinal é a minha vida!

Nunca obtive a resposta!

Quem dera a tivesse!!

Seria tão mais fácil saber por que deixei meu cantinho do lado direito da cama, de onde podia acompanhar a lua em suas várias fases? Por que deixei meus cachorros, companheiros calorosos e ternos, os quais amo profundamente? Uma casa novinha, construída por mim, plantas que me acompanhavam há anos e tantas outras alegrias???

É desesperador não ter respostas. Descobrir que não há culpados, muito menos vítimas!

Chamo sim, de 'vítimas', filhos que convivem num lar onde impera a aparência de uma união feliz, onde os pais se maltratam, se não fisicamente ou verbalmente, mas em guerras frias e silenciosas.

Não convivi com este tipo de situação. Mas para mim, tudo o que parecia perfeito aos olhos dos outros, tornou-se pouco, pequeno, diante da urgência de me encontrar. De ficar quietinha comigo mesma. O isolamento se fez imprescindível, a separação de tudo aquilo, tornou-se uma questão de sobrevivência.

Loucura? Depressão? Encosto? Macumba?

Desculpas boas para quem vive procurando uma razão para tudo.

Descobri que quando o assunto é relacionamento, a razão, assim como a lógica, não dão conta de explicar o por quê se fica junto e por quê se separa. Quem sabe o tempo, ao menos espero, seja capaz de clarear os motivos que me levaram a tomar a atitude de mudar radicalmente de vida e deixar tudo o que mais amava para trás pelo simples fato de continuar vivendo.

Difícil é explicar isso pro pai, pra mãe, para as pessoas que amamos! Justamente eles que vivem dizendo que "Deus escreve certo por linhas tortas"...Quem sabe não será esse "caminho torto" que me conduzirá até onde eu deveria verdadeiramente estar?

Como explicar que "perfeição" nem de longe serve de sinônimo para "felicidade? Que nem rima fazem!

Que a vida é feita de riscos. Nos arriscamos quando casamos. Nos arriscamos quando separamos. Arriscamos quando temos filhos e também quando não temos. Viver é risco permanente. Essa é a única resposta que tenho, tanto para eles, quanto para mim.

Absolutamente nenhum motivo mais concreto ou passional, que pelo menos oferecesse uma boa trama de novela ou livro!