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Há quinze anos ouço o Fernando dizer todas as vezes que vou fazer alguma compra:" Lembre-se dos 3 'bs'!"
Os '3 bs' a que ele se refere diz respeito a seguinte regra: só compre o que for bom, bonito e barato. Minha filha cresceu ouvindo esse tipo de coisa, e agora, em plena adolescência, no afã por querer tudo, e tudo ao mesmo tempo, resolveu inovar: "Mãe, agora para mim são 4'bs': bom, bonito, barato e bastannnte!"
Não sei onde isso vai parar, e antes que os 'bs' continuem a se multiplicar, propus uma nova regra: diante de qualquer compra, apenas um único 'b', o de básico!
Isso para tudo, desde produtos de limpeza (que sempre olhei com desconfiança para aquela diversidade enorme nas gôndolas) até para eletrodomésticos, móveis, carro e até casa. Não gosto de nada espalhafatoso e exagerado, se bem que esses são conceitos muito relativos, pois cada qual tem uma idéia diferente do que seja pouco e do que seja muito. Mas de maneira geral sabemos diferenciar o básico do exagerado pelo seu efeito a longo prazo. O exagerado é aquilo que depois de um tempo não suportamos mais olhar. Ao contrário do básico, ou clássico, que é silencioso, não fere os sentidos, por isso não cansa.
O básico nem sempre é o mais barato, mas também não precisa ser necessariamente o mais caro. E a longo prazo ele acaba compensando economicamente, pois quando digo básico não me refiro apenas à aparência, mas também à quantidade: comprar só o que é útil naquele momento, na quantidade e no tamanho exatos. Não entendo a lógica de armazenar, pois não estamos em guerra e temos sempre à disposição roupas lindas, alimentos frescos e tudo o mais na hora em que precisamos! Por isso ao invés de comprar 3 pares de sapatos por que não comprar apenas 1?
Nem preciso dizer que minha filha odeia essa teoria. "Mãe, como que pode um único par brincos por meses? Uma única calça, ainda mais assim: sem nenhum strass, brilho, aplicação...??" Nada contra as firulas, mas enjôo logo, o que acaba gerando desperdício.
Volta e meia me encontro na rua com um conhecido, dono de uma loja, e ele sempre fala: "Vai lá na loja, chegaram coisas lindas!" Respondo: "Realmente confio no seu bom gosto, mas é que não estou precisando de nada no momento". O que ele pensa, não sei, mas a minha filha tenho certeza que tem vontade que o chão se abra. "Mãaae, ninguém compra roupa apenas quando está precisando!" Simulo ingenuidade: "Ah não? Estranho isso."
Às vezes me sinto um ET, mas só às vezes, pois felizmente conheço várias pessoas que compartilham comigo dessas idéias. Há hoje em dia uma consciência maior. Nunca se falou tanto em consumo consciente e em reciclar o que já se possui, pois sabemos que se continuarmos neste ritmo caminharemos para um colapso. Não apenas com danos para o planeta, mas primeiro para a nossa própria vida, pois o excesso de tralha é oneroso, ocupa tempo e espaço demais!
É necessário reinventar outros prazeres para preencher nossos espaços e tempos, outras fontes de satisfação mais saudáveis para todos. Consumindo o básico nos tornamos mais leves, desprendidos. Temos a certeza de que somos nós que utilizamos das coisas e não elas que nos utilizam.
Não sei se é utopia, mas acredito que esse seja o primeiro passo para a tão almejada liberdade.