01 setembro 2008

O meu, o seu, o nosso cheiro



Já parou para pensar em por quê sentimos cheiro?

Aparentemente, tirando o prazer ou desconforto que os cheiros nos causam, não há nenhuma utilidade para tal sentido. Bem diferente da audição, do toque, do paladar e da visão, cujas utilidades facilmente identificamos. Mas não é bem assim. O olfato faz parte de um sofisticado sistema de proteção à vida. É por meio dele que distinguimos alimentos, ambientes e até pessoas benéficas de maléficas. Sem o olfato morreríamos rapidamente.

Uma casa para ser acolhedora tem que ser limpa a fim de transmitir a sensação de segurança. Quando há algum cheiro ruim nosso corpo se põe em estado de alerta, portanto não relaxamos, não nos sentimos em casa! Ao identificar um cheiro como bom nosso sistema olfativo envia ao cérebro a mensagem de que pode abaixar a guarda, dormir em paz, o ambiente está livre de perigo.

Outra peculiaridade do olfato é a sua capacidade de nos transportar a lugares distantes, a pessoas e situações especiais. Quem nunca se sentiu conduzido a algum lugar da memória por meio de um simples perfume? Sabendo disso algumas lojas começam a criar seus próprios aromas, muito bem estudados, a fim de nos remeter aos sonhos antigos, lembranças da infância, conforto de casa, abraço de avó... ai, quando menos percebemos, já estamos levando a loja toda. É, infelizmente os profissionais do marketing não se envergonham em utilizar nossas mais caras lembranças para vender! Nessas horas é bom deixar o olfato de lado e abrir bem os olhos para os preços nas etiquetas e no nosso saldo bancário.

Também uma arma antiga, e que foi muito utilizada durante a Guerra Fria para destruir um inimigo ou descobrir seus segredos, consistia em enviar-lhe uma mulher lindíssima e, claro, cheirosa, dessa forma ele seria facilmente enganado, pois diante da beleza e de um bom perfume nos desarmamos. Também por isso que há tanto assalto cometido por pessoas bem vestidas e limpinhas, para não causar alarme. Pessoas nestas condições nos transmitem confiança.

Outro dia li que para tentar conter a violência nas grandes cidades já se estuda a hipótese de colocar aromatizadores em locais públicos, como escolas e estações de metro, pois os mais diversos odores nestes ambientes estimulam a animosidade entre as pessoas. Na verdade é o que Paulo Freire dizia: 'o homem não suporta o cheiro do homem', sendo assim talvez o problema da violência fosse até amenizado com o uso de aromas pacificadores , ao menos traria muito mais conforto não sentir o cheiro dos nossos vizinhos no trem ou dos colegas de escola depois da educação física, porém será que não estaríamos nos enganando de alguma forma? Deixando de conviver, respeitar e aceitar os cheiros alheios, que, afinal são naturais e não são muito diferentes dos nossos?

Mas tirando estes pontos que envolvem espionagem, assaltos e compras por impulso, o olfato é muito confiável, ele é o nosso grande aliado na escolha de amigos e de um companheiro. Quando gostamos do cheiro de alguém, nossos sentidos, que são muito mais rápidos que a nossa mente, já identificou o que talvez demoramos meses ou anos para perceber: aquela pessoa nos faz muito bem!