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Desenvolvi uma aversão pelas coisas macias.
Não sei de onde isso veio. De um dia para o outro me peguei com pavor de uma cama fofa, de um sapato confortável, de um copo de leite morno...
Por mais que me doa, gosto de caminhar descalça no frio, deitar no chão gelado, comer o que está esquecido sobre o fogão.
Os ambientes áridos e inóspitos me atraem e prefiro vislumbrar o deserto que a uma bela praia ou cachoeira.
Sei que é apenas uma fase. Logo passa e voltarei a sentir prazer nas coisas boas. Mas não desprezo o que a vida me traz. Se chuva, bem! Se sol, bem também. Serenamente transito entre um estado e outro. Entre uma disposição e um desânimo. Entre o aconchego e o abandono. Aprendi que não dá para ter tudo sempre. Muito menos manter a coerência todos os dias, pois a confusão é o meu estado natural.
Caos e ordem tudo junto, na mesma casa, na mesma pessoa.
Cansei de lutar contra minha natureza e resolvi aceitar tudo o que sou.
Consigo ver razão em tudo o que existe, até nas coisas feias, na miséria, na amargura e até na morte.
Muitas vezes é preciso saborear o fel das adversidades, rolar com elas por terrenos pedregosos e contemplar a ferida aberta.
Só assim se cresce, só assim criamos olhos sensíveis às belezas simples da vida.