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Quando eu era criança não gostava de comer. Nem eu, nem a minha irmã. Isso era motivo de desespero para o nosso pai que, para nos livrar da inapetência, preparava uma fórmula horrorosa. A receita era o seguinte:
1 vidro de óleo de fígado de bacalhau, a famosa emulsão Scott, 1 de biotônico Fontoura, 2 ovos de pata crus, tudo no liqüidificador.
À vezes ele queria incrementar, então colocava aveia e rosquinhas Mabel! (Atenção, pais, não tentem fazer isso em casa!) Tanto eu quanto a minha irmã, acreditamos que tal gororoba, ou melhor, receita, deu tão certo que temos fome para pelo menos três gerações depois de nós, isso já começo a comprovar pela minha filha.
Não há nada que não gostamos e frases como "me faz mal" ou "tenho nojo", não fazem parte das nossas vidas.
Mas, mesmo gostando tanto de comer, sou uma pessoa da Fome. A escolhi como companheira e mestra, de livre e espontânea vontade, pelo menos depois das 6 da tarde e às segundas-feiras, dia que escolhi para jejum.
Quando nos permitimos sentir fome, estamos nos permitindo conhecer mais de nós mesmo, do nosso corpo e vontades.
Se você está com um grande problema, sai para se divertir, assiste a um filme, namora ou toma um tranquilizante, que pelo menos por algumas horas o esquece. Mas e a fome? Como namorar, assistir a um espetáculo e dormir com ela? Como esquecê-la?
Ela é voraz, não aceita nada menos que todos os nossos instintos e sentidos direcionados a si.
No entanto, o que mais gosto nela é seu efeito contraditório: ao mesmo tempo que debilita, revigora. Há um ditado que diz que 'nos torna lentos e tristes, mas clareia mente e atiça a luxúria'.
Por isso os padres têm fama de glutões. Comer acalma as querências e vontades de todo tipo.
Já a fome desperta os sentidos, nos dá a noção exata de qual a nossa verdadeira fome.