14 agosto 2008

Reta intenção



Diz o ditado que de boas intenções o inferno está cheio! Será verdade?

Segundo a filosofia budista, há 8 caminhos pelos quais podemos buscar nos aperfeiçoarmos. Cada caminho é denominado 'reta', são elas: Reta Consciência, Reta Palavra, Reta Ação, Reta Vida, Reto Esforço, Reto Saber, Reto Recolhimento e Reta Intenção.

Quando pegamos um copo no armário e percebemos que ele não está lá muito bem limpo, logo pensamos "onde a pessoa estava com a cabeça enquanto lavava a louça?" Nunca saberemos, porque, talvez, nem ela mesmo saiba, pois poucos têm o costume de reparar no que faz, muito menos no que pensa. Uma coisa é certa: ela não tinha a intenção de deixar o copo sujo, porém não tinha a intenção de deixá-lo limpo também, pois se esse fosse claramente seu objetivo o trabalho teria saído bem feito. O mesmo acontece com políticos, engenheiros, pais e mães diariamente.

A intenção por trás de cada ato que praticamos faz com que fiquemos cientes de tudo o que fazemos.

Atenção Plena, esse é o objetivo de toda prática e filosofia budista.

Voltando ao ditado lá do início, acho que ele é uma forma de tentar justificar atitudes distraídas (outro nome para negligência). Dessa forma deveríamos mudar a frase para " de gente que não presta atenção no que faz o inferno está cheio."

Essa questão da intenção é tão séria que dificulta até a aplicação das leis. Outro dia ouvia o caso de um pai que antes de pegar a filha na escola, passou pelo bar e tomou uma cerveja (não me lembro a quantidade). Depois de pegar a criança, bateu com o carro e a filha morreu. Trágico não é? É óbvio que ele não tinha a intenção de matar, mas também não estava muito clara na sua consciência a intenção de proteger a criança, que seria sua primeira responsabilidade como pai. E ai? Como aplicar a lei neste caso?

As pessoas não imaginam quão poderosa é uma boa intenção, e do quão prejudicial é a falta dela! Já imaginou se ao invés de simplesmente fazer a comida a mãe tiver a intenção de nutrir de forma eficiente a família? E o estudante que tem a intenção clara de fazer bem feito o seu curso na faculdade?

A boa intenção pode não nos dar garantia de que seremos reconhecidos e bem sucedidos sempre, pois estamos o tempo todo dependentes das intenções das outras pessoas, no trânsito, na política, na educação dos nossos filhos, dos colegas de trabalho. Mas seguramente ela nos traz paz de espírito e tranquilidade, pois sabemos que a nossa parte foi feita e, bem feita.

O hábito de observar nossa real intenção nos coloca como sujeitos autônomos da nossa vida, ou seja, nos liberta do piloto-automático, de sermos maria-vai-com-as-outras. Claro que com a autonomia nossa responsabilidade aumenta muito, pois passamos a ser conscientes do que fazemos, porém isso é infinitamente melhor que fazer as coisas às cegas.