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Há mais ou menos uns 17 anos li uma reportagem que dizia que "somos seres andantes". Não sei por que esta afirmação jamais me saiu da cabeça. Na época, muito mais jovem, estudava em Viçosa. Uma Universidade longe de tudo e onde tudo é longe. De uma aula a outra, haja fôlego! Isso de segunda à segunda, das 7 da manhã as 23:00 da noite, que era o horário absurdo em que saíamos das últimas provas.
Como sempre, pobre, andava à pé. Mas isso não me incomodava, nem nunca foi motivo de revolta. Fazia minhas andanças com imensa satisfação, mas sem pensar muito sobre elas. Apenas andava. Não havia preocupações 'ecológicas', como o uso abusivo dos recursos não renováveis, o dióxido de carbono liberado no ar ou a questão dos males adventos do sedentarismo. Nada disso me passava pela consciência, e acho que de bem poucas pessoas no Brasil daquela época.
O tempo foi passando e, quando dei por mim, estava dirigindo. Obcecada pela questão 'tempo' achava que deixar o carro na garagem e fazer qualquer coisa à pé seria loucura. Não teria tempo pra cumprir com os muitos compromissos que havia assumido. Alguns anos mais se passaram e comecei a reparar que minha saúde não era mais a mesma, muito menos meu corpo!
As gordurinhas iam se acumulando, vivia tensa, estressada. E fazia massagens para tentar compensar o prejuízo. Inchava muito, meus pés viviam parecendo pão-de-batata.
Demorei pra perceber que precisava me livrar do carro o mais rápido possível. E demorei mais ainda para tomar essa atitude. Confesso que só neste ano tomei a tal decisão.
No começo bateu insegurança de todo tipo: não terei tempo de fazer minhas coisas, minha filha vai estranhar (ela nunca gostou de caminhar), ficarei limitada com a questão das roupas, pois fazer tudo à pé exige roupas e calçados apropriados, enfim, foram tantos os obstáculos que me coloquei que pensei que não seria possível, mas surpresa: está sendo totalmente viável, possível e prazeirozo!
Vejo meu corpo mudando dia-a-dia. Minha saúde e muito, muito, menos tensão. Minha filha faz suas atividades acompanhada com as amigas, vão conversando, conhecendo pessoas, descobrindo uma ou outra lojinha, sentindo a cidade, vivendo a cidade.
Acredito que é assim que deve ser.
Infelizmente não temos esta preocupação no Brasil de morar perto do emprego, da padaria, da escola, da livraria... Coisa que nos permitiria muito mais qualidade de vida, maior relacionamento com os 'cidadãos' e muito mais saúde.
Ao caminhar movimentamos o sistema linfático, que é o responsável pela eliminação de uma série de substâncias tóxicas. Quando não caminhamos ficamos como que com um reservatório de água parada dentro de nós. Mas não só água, água com alguns 'veneninhos' que não foram descartados. Não adianta muito outros tipos de atividade física, pois é o contato do pé com o solo, o impacto que faz circular a tal água parada de baixo para cima, que do contrário vai se acumulando. Os mais antigos diziam que uma canela fina era sinônimo de saúde, acho que eles tinham razão, pois isso denota que a pessoa não vem acumulando 'lixo' pelo corpo, portanto terá menos chance de doenças.
Além de tudo isso, gente, sou muito suspeita pra falar, caminhar é delicioso! Você vai sentindo a liberdade do seu corpo, percebe como ele é solto, livre. Sente os cheiros das ruas, da padaria, das árvores, cruza de frente com as pessoas, olha nos olhos, cumprimenta os desconhecidos, faz amigos, arruma briga com os cachorros e, observa, estarrecida, a loucura das pessoas dentro de seus carros. Como se vivessem em eterna urgência e desespero. É uma briga aqui por uma vaga, outra ali por uma paradinha onde não devia. Olhando tudo isso, de fora, penso: ufa! Que bom que não faço mais parte desse time!
Me reconheço totalmente como um ser que depende do movimento para viver, não o do carro, mas o meu próprio. E que, além de tudo, possuo um ritmo que é único e independente.