24 outubro 2008

Gato Preto



Coisa boa na vida é irmão, ou irmã, como no meu caso! E uma pessoa assim, tão especial, é um verdadeiro presente!

Quase nos matávamos quando crianças: ela me mordia e eu a arranhava.

Mesmo assim ela era minha defensora inconteste. Ai de quem se metesse à besta comigo, ela "esperava na saída da escola", enquanto a irmã 'pamonha' e chorona, eu, ia para casa aos prantos e deixava ela lá, na fogueira, por minha causa!

Apesar de mignon sempre foi brava e jamais fugiu de uma briga A primeira a alcançar os galhos mais altos das árvores, a pular na água e a experimentar qualquer novidade. Principalmente se a tal novidade oferecesse algum risco de vida!

Ela se achava a dona do flamboyant da frente de casa. Apesar de que isso não me incomodava. Pois mesmo sendo mais bonito, preferia a mangueira do quintal dos fundos. Desse jeito demarcávamos nossos territórios: ela, no iluminado, alaranjado, esplendoroso flamboyant e eu, na escura , escondida e velha mangueira.

Os pais deveriam observar desde cedo os talentos naturais dos filhos, suas brincadeiras preferidas, isso ajudaria muito no encaminhamento profissional. Criaria atalhos, impediria que ficássemos quebrando a cabeça entre várias opções. Na antiguidade e na Idade Média era assim, o pai que podia pagar, selecionava uma pessoa para ficar observando o filho e ver sua essência, para que desse modo fosse desenvolvido o potencial máximo daquele indivíduo. Foi assim com Carlos Magno, Platão, entre outras figuras que se destacaram em suas atividades. Hoje nem pais, nem professores, costumam reparar muito nestas coisas o que é um grande desperdício.

Mas, quem reparasse em minha irmã logo perceberia que ela gosta de perigo. Aos três anos escalou um armário enorme, só para pegar um doce de abóbora com veneno para ratos que estava lá em cima. Nem preciso dizer que quase morreu. E assim foi a infância toda. Talvez por isso, até a época de nos separarmos, quando fui para Viçosa e a deixei em Jahu, me sentia responsável pela sua vida, meio que anjo-da-guarda dela. Pois vá gostar de flertar coma morte assim, lá longe! Não sei quantas vezes meu pai teve que sair correndo para o hospital com ela.

Além das roupas pretas, a agilidade e o olhar felino, talvez, essas 'várias vidas', explique seu apelido: "Gato Preto".

Desde pequena ouço a história de que quando ela nasceu (prematura, com atrofia pulmonar, mas com pressa, com urgência de viver, como sempre) foi a única criança a sobreviver no hospital naquele dia. E que em casa não sobrou uma única galinha no quintal, algo aconteceu que matou todas de uma só vez! Observando seu Mapa Natal, vemos que Plutão andava furioso naqueles dias. Talvez isso simbolize sua resistência. Que é espantosamente sobre-humana. Resiste a tudo, desde veneno de rato a uma conjunção planetária atroz , só não resiste às tentações. Ama os prazeres da vida: uma boa mesa, uma roupa bonita e um belo gato! Afinal, a protegida de Plutão, também é humana!
Mas ela é doce, muito doce. Amorosa, família, companheira para qualquer hora ou atividade.

E possui uma peculiar filosofia de vida. Ela acredita que o divórcio deixaria de existir se uma vez por mês, num dia específico (como faz uma tribo indígena, que ela leu só Deus sabe onde) todas as mulheres dessem uma boa surra nos maridos. Com vontade mesmo! De deixá-los mortos. Isso acabaria com o lance de discutir a relação, ficar de bico, essas coisas que vão matando as mulheres por dentro de tanta raiva pelos absurdos que os homens cometem.(Só eles, lógico. Pois, nós, mulheres, formamos uma casta superior!)

Ela também acredita que as mulheres são mais estressadas porque não tem "saco" pra coçar, que por isso os homens são mais 'cabeça fresca', em vez de pensar, eles ficam se coçando no sofá. Ela pensa que deve haver algum mecanismo interno que liga esse ato, diga-se de passagem: horroroso, a algum lugar do cérebro que libera calmantes na corrente sanguínea. Assim eles passam o dia, o final de semana, o mês, vendo o replay do replay da copa de 82!

Filosofias à parte. Ela é muito especial.

Forte de verdade, mas sua verdadeira força está no caráter e no amor.

Será que precisa de mais alguma coisa?