10 fevereiro 2008

Do nascimento do amor



Diz a lenda que Penúria vivia a perambular pelo mundo à procura de um pouco de amor e de aconchego. A vida de Penúria não era nada fácil. Vivia enxotada daqui e dali.
Seu corpo não passava de ossos cobertos por uma pele seca e enrugada. Carne nenhuma se via nas suas faces, seus seios eram murchos e suas coxas flácidas, quase nenhum vigor se via nela, a não ser pelas enormes e poderosas unhas, que mais se pareciam com garras. Era como se toda a sua força se concentrasse nelas, para que desse modo, pudesse desesperadamente agarrar-se ao primeiro raio de sol que cruzasse seu caminho.
Certo dia houve uma festa grandiosa no Olimpo, mais uma das muitas que agitavam a morada dos deuses. Penúria se enchia de esperança nestes dias, pois a fartura era imensa, frutas saborosas por todo canto, néctar dos mais finos e raros, saborosos manjares, além de que, é claro, o que não pode faltar em uma balada que se preze, muitos convidados dispostos a encontrar sua outra metade, nem que fosse por uma noite.
Porém, sua presença causava pânico nas pessoas, e era só Penúria se aproximar que sua vítima desaparecia, isso fez dela uma especialista em toda sorte de fraudes e artimanhas.
Neste dia, Poros, o deus supremo da sabedoria e da abundância, estava tão embriagado de néctar que nem percebeu a presença moribunda de Penúria e não foi difícil para ela criar um disfarce que o seduzisse. Esta o envolveu com todo o seu querer e, pelo menos por aquela noite, Penúria teve sua fome saciada.
Ela alimentou-se do cheiro adocicado que desprendia do hálito de Poros, nutriu-se-se da sua carne e sorveu de seus humores, nenhuma única gota de suor ou de lágrimas foi desperdiçada.
No dia seguinte, ao acordar, Poros desesperou-se ao perceber que havia passado a noite com Penúria, mas nada mais havia que se pudesse fazer...
Desse encontro nasceu Vênus, por isso que ainda hoje se diz que o Amor é fruto da Abundância com a Penúria. Que é um querer imenso que nunca se sacia, que quanto mais se tem mais abandonado se sente.
Um verdadeiro padecer no paraíso...