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Li que segundo uma pesquisa realizada pelo Cartoon Network, com cerca de 7 mil brasileirinhos entre 7 e 15 anos de idade, comprovaram que 73% deles podem ser considerados 'multitarefa', pois conseguem fazer o dever de casa enquanto assistem TV e navegam na internet.
Se fosse no tempo do meu avô ele logo gritaria:" -Truco!". Como sou mais moderna, grito o nome de um jogo de baralho que brinco com a minha filha" "-Desconfio!"
Não desconfio da capacidade humana de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Sou mulher e mãe e não poucas vezes me vi fazendo o almoço, dando de mamar e atendendo ao telefone ao mesmo tempo. Porém o que desconfio são dos efeitos dessa 'agitação' mental a longo prazo.
Sou agitada por natureza, apesar de aparentemente dar a impressão de ser um lago calmo e tranquilo. Só eu e meu estômago sabemos o que sofremos com essa coisa de querer ser 'trezentos' (coisa de Mário de Andrade!).
A pesquisa se firma no fato, realmente comprovado, de que o cérebro humano vai se adaptando aos novos hábitos. Mas eles se esquecem de que tais mudanças são lentas e, até que sejam efetivadas, há picos de desequilíbrio e estresse que ninguém sabe quanto tempo pode durar.
Não canso de ver pessoas no metrô lendo, ouvindo música e tentando falar ao celular (sou uma delas). Mas luto contra isso com todas as minhas forças, e quando consigo meu sono, minha criatividade, minha paciência e capacidade de aprendizagem, são outros. Do contrário, levo essa agitação pra cama, pra mesa, pro corpo e me pego estressada, arrasada, como se uma motoniveladora tivesse passado por cima de mim.
Pobre monja, tantas palestras... Mas um dia eu aprendo: "Uma coisa de cada vez!", "Atenção plena!" Eu chego lá.
Outro dia assisti a uma palestra de um professor do Anglo, que foi enviado pela escola à Finlândia para descobrir o segredo desse povo que, além de habitar no fim do mundo, ocupa o primeiro lugar no ranking educacional mundial. Ele logo imaginou: "Deve ser a carga horária, educação em período integral! Não! Então, salas de aulas superhipermodernas? Também não!
A Finlândia é um país onde 99,9% das mães trabalham fora, por isso as crianças ficam no período da tarde na escola revendo a matéria que foi dada pela manhã, fazendo o dever de casa, ou seja, elas também só assistem aulas por meio período.
Segundo suas palavras, cada uma dessas salas de estudo é de uma simplicidade monástica: carteiras, umas seguidas das outras e, em cada uma, uma gaveta, para o aluno guardar seus objetos pessoais, nada mais! Assim eles passam a tarde, no mais completo silêncio. Tornan-se desde cedo autodidatas, pois não tem a história tirar a dúvida com a mãe, com o pai, nem com a internet. É tudo muito bonito e organizado, porém fico pensando: onde eles escondem os hiperativos? Ou será que naquele país eles não existem? Ou eles se trasformam em jovens que, de tão reprimidos, mais cedo ou mais tarde vão se rebelar contra o sistema e sair matando os colegas, como aconteceu recentemente comum jovem de 18 anos. Ou ele será o próximo suicida? Pois com um sistema tão rígido (e tão pouco sol), não sobra muita opção aos 'diferentes', fazendo daquele país o primeiro lugar também no número de suicídios!
No outro extremo temos o Brasil: penúltimo lugar em qualidade educacional. Bendita Gana, do contrário seríamos os últimos! O problema aqui é excesso de barulho, de agitação. Parece que o brasileiro não consegue ficar sem um zunzunzum de fundo. Nas raras vezes que nossos alunos sentam para fazer suas tarefas e rever o que foi ensinado no dia, terá como pano-de-fundo uma TV ou um computador ligado. Além do IPod e do celular, o qual ele pára o tempo todo para selecionar uma nova pasta ou atender e ver se recebeu alguma mensagem. Concentração zero!
A questão é que hiperativos há em todo lugar, pois é uma doença comprovada e não depende de raça, cor ou nação para nascer um privilegiado. Mas no Brasil acostumou-se tratar os alunos com DDA - Disturbio de Déficit de Atenção- como se fossem hiperativos. Pode acontecer de uma pessoa ser contemplada com os dois problemas, o que não é raro. Mas são coisas distintas.
O que chama a atenção é o fato de que até alguns anos atrás não de ouvia falar em DDA. Sempre houve os 'agitados', que hoje sabemos serem os hiperativos. Mas estes não permaneciam na escola por muito tempo, o próprio sistema se encarregava de fazê-lo desistir de frequentar as aulas por muito tempo. Mas o que estamos observando agora é uma verdadeira avalanche de alunos com problemas de atenção.
Eu desconfio de duas hipóteses, sendo que uma não exclui a outra. A primeira se deve ao fato do grande número de informações a que os jovens são submetidos. A essa agitação mental ocasionada primeiramente pela TV, depois pelo IPod, Internet, MSN, jornais, revistas...tudo cujo valor e importância nas nossas vidas é indiscutível. Porém, tudo isso não passa de distração. Observe bem a palavra: "Dis-tração", atenção pulverizada, difusa. Ao contrário da leitura, a que bem poucos se dedicam, e que estimula justamente o oposto: a "con-centração", o focar, o convergir a um único ponto toda a nossa energia.
É óbvio que o Cartoon vai defender que fazer dever de casa na frente da TV é possível! Nada mais natural, afinal, eles vivem disso!
E a segunda hipótese é que as aulas, assim como os professores e todo o sistema educacional tornou-se obsoleto, desinteressante. É um inferno na terra para um jovem cheio de energia, criatividade e acostumado à velocidade, permanecer no mesmo esquema educacional de cinquenta anos atrás.
É preciso reinventar a escola, modernizá-la, sem dúvida. Mas antes de tudo é preciso reinventarmo-nos. Como diretores, políticos, professores, precisamos nos tornarmos mais interessantes, mais sedutores. Como diria Umberto Eco, seduzir como uma forma de "trazer a si", aproximar o objeto do desejo, no caso o aluno, não a nós, mas ao gosto pelo conhecimento. Fazer da escola um lugar vivo, onde todos os sentidos possam ser despertados e utilizados.