29 fevereiro 2008

Pensamento amoroso



Desde criança sofro do problema da empatia, quando vejo já estou sentindo, na verdade, sofrendo, pelo que o outro sofre. Também sou médium e por isso largamente influenciada pela qualidade dos pensamentos que as pessoas lançam por ai. Desconheço por quais motivos nasci com essa sensibilidade. Só sei que ela existe.
Falo isso porque percebo que o mundo começa a despertar para o magnífico, mas perigoso, poder que há nos pensamentos. Nunca se falou tanto em tal assunto. De certo modo todos somos médiuns e estamos trocando informações o tempo inteiro, só que de modo inconsciente. Por isso é tão importante a ética, até nessas questões sutis, onde aparentemente, ninguém vê.

Quando depreciamos alguém, seja o funcionário que trabalha no caixa do supermercado e que não é tão veloz quanto gostaríamos, ou aquele motorista que na dúvida entre seguir pela direita ou pela esquerda opta pelo centro, acabamos enviando pensamentos de orgulho, de uma falsa superioridade para essas pessoas que, sem entenderem, chegam no final do dia arrasadas, assim como nós mesmos.

Isso é muito sutil, mas real, e ocorre o tempo todo.

Você já parou para pensar que tipo de influência energética lança sobre sua família, funcionários, amigos, desconhecidos?

Hoje vigio para que meus pensamentos não tragam dano a qualquer ser. Nem sempre consigo, mas me esforço.

Precisamos agir com carinho e respeito para com as pessoas, não apenas quando somos observados, mas principalmente quando não o somos, assim a vida fica mais fácil, formamos redes de relacionamentos sinceros, onde não há espaço para disputas de poder e ataques de superioridade. Além de deixarmos de lançar venenos nos ambientes em que vivemos. Desse modo nos livramos de fazer das nossas vidas, e das pessoas que convivem conosco, um inferno.

A vida que desejamos depende , e muito, da qualidade dos nossos pensamentos.

Vamos ficar atentos?








24 fevereiro 2008

Em silêncio



Se há uma coisa que adoro é o som da voz humana. Por isso acredito que serei eternamente aluna. Me encantam assistir aulas, ouvir pregações, contação de histórias... Onde quer que haja uma pessoa falando, se estiver por perto vou parar para ouvi-la.
Só uma coisa supera esse meu gosto pela palavra: é o gosto pelo silêncio!
Desde criança, para mim, a hora mais esperada do dia é aquela em que todos de casa dormem. Amo a atmosfera de paz e recolhimento na qual a casa se transforma. É como se as próprias paredes se tornassem mais relaxadas, invisíveis.
Neste ambiente pode-se ouvir com precisão a respiração, os batimentos cardíacos e até o funcionamento dos órgãos mais internos. Sempre tive facilidade para fazer essa viagem insólita dentro de mim mesma, desse modo posso acompanhar meus rins trabalhando, meu coração e o sangue correndo.
Essa sensação de consciência total vai se estendendo, podemos ouvir o ranger das madeiras como ossos velhos que se dobram, o som de insetos para lá e pra cá em plena atividade, ao longe os cachorros e os galos, tudo com tanta intensidade que se prestar mais um pouquinho de atenção dá para ouvir o barulho do novo dia chegando, os sonhos e os pensamentos mais secretos de cada pessoa que dorme.
Então percebemos que esse silêncio não é tão silencioso assim, pelo contrário, é até bem movimentado. Mas de um movimento diferente do dia a dia. No qual é necessário que um durma para que o outro acorde.
O silêncio é acolhedor, é mágico, trás de volta quem somos, nos desperta do piloto-automático. Chego a pensar que ele forma uma dimensão espacial em torno de si, um mundo paralelo. Uma catedral de cura e paz.
Sentir o silêncio em sua plenitude é como transpor um portal para outros mundos nos quais todas as vozes, de todos os tempos, estão presentes, mas não se confundem, nem atrapalham.
Talvez por isso ele seja tão assustador para muitos. Mas não há o que temer, os mesmos fantasmas que encontramos lá, podem estar aqui, bem pertinho, dentro de cada um de nós.
Nesta dimensão desconheço o cansaço, assim como não há a noção de tempo.
O silêncio é o plano intermediário entre o nosso plano e o além.

Confesso: é o meu local preferido!

19 fevereiro 2008

?



É cada vez mais profundo o poço em que me encontro,
Mas por que ele me parece tão raso?
Será que tenho cavado pouco?
Ou será que quanto mais cavo mais chego à superfície?
Eta vocação pra tatu!
Talvez por isso me chamam Táta.
Táta, tatu...cotia não!
Cotia não cava. Tatu sim, vive no limite,
Rasgando o mundo com as próprias unhas.

Fórceps, de novo!



Como ter que passar por um túnel escorregadio, com tudo te puxando para fora, mas sem conseguir sair?
Na vida passamos por muitas mortes e, consequentemente, por muitos nascimentos. Penso que morrer é fácil, do mesmo modo que uma fruta que se deixa na fruteira, a vida vai se esvaindo, dia a dia, pouco a pouco, até que um dia, puf, não existe mais. Já nascer é bem diferente, implica em sair do local quente e confortável, além de conhecido, para um mundo novo.
Para morrer é só se esquecer. Para nascer você é lembrado o tempo todo pelas contrações da mente de que naquele local seguro não é mais possível permanecer. Não há folga!
O morrer é calmo e tranquilo. O nascer é urgente. O mundo tornou-se pequeno demais, falta ar, falta correr livremente com as próprias pernas. Mesmo assim reluto, brigo com minha própria necessidade e querer.
Nem percebo, alheia que estou ao meu exterior, que às vezes uma força maior entra em ação, algo extremamente dolorido vem ao meu encontro. Mãos de ferro me recolhem, puxando-me para fora, não há nada mais a que me agarrar, o caminho é escuro e escorregadio, e o pior: sem volta!
Quando dou por mim estou em um lugar todo iluminado, é mais frio sem dúvida, porém é possível respirar livremente.
Com o tempo percebo que este outro mundo pode tornar-se quente também, dá para se construir um outro ninho. A vida é formada de infinitas possibilidades.
Agradeço as mãos de ferro que mais uma vez me receberam neste mundo, mãos que compreendem esta dificuldade que tenho para sair à luz.

13 fevereiro 2008

Pais presentes



Sábado passado fui a uma reunião de pais e professores na escola da minha filha. Ela está na sétima série, há duas salas, a A e a B, juntas elas contam com 33 alunos, só que desse total apenas 4 pais estavam presentes.


Suspeito que há algo de errado nisso. Tudo bem, sábado, 9:00 da manhã, as aulas mal começaram, os pais devem ter pensado, além do que meu filho nem está com problemas de nota a ponto de perder o ano, por que ir à reunião?


Acredito que tal encontro não foi marcado à toa, não foi apenas para que os pais se reencontrassem e exercitassem a sociabilidade. Se encontrar para desfrutar do não fazer nada a gente faz com os amigos e não com desconhecidos. Enfim, se foi marcada a tal reunião era porque tinha-se o que dizer, portanto, o que se ouvir. E a reunião foi muito boa, foi falado, entre outras coisas, sobre o cuidado com o excesso no uso da Internet e sobre a questão fundamental nesta idade: hormônios a mil por hora. Todos sabemos dessas coisas, sem dúvida, até ai não há novidade alguma, mas os assuntos foram explicados por profissionais, por pessoas preparadas para estarem ali, não era um bate-papo irresponsável baseado em achismos do que se ouviu falar ali na esquina.


Porém, muito mais importante do que o conteúdo da reunião é o fato de se estar ou não presente na vida escolar do próprio filho. Dei essa volta toda para dizer que me toca o descaso dos pais pelos seus filhos. Sinto muito não há outro nome. Sempre reparei isto: filhos de pais que vão às reuniões são mais responsáveis, podem não ser os melhores alunos, mas se esforçam mais. Inconscientemente eles pensam: alguém se preocupa comigo, alguém está me observando, sou visto, sou, portanto, importante!


E a mensagem do pai que não vai a reunião é a seguinte: ficar dormindo é mais importante do que meu filho, ir ao salão fazer a unha, jogar bola, lavar o carro, ou qualquer outra coisa que esse pai tenha ficado fazendo, passa a ser mais importante que o filho em si. Nossos atos falam mais por nós que as nossas palavras e, crianças e jovens aprendem muito mais pelo exemplo que por discursos intermináveis.

10 fevereiro 2008

"Multipliquei-me para me sentir", Fernando Pessoa

"... Eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta,
mas um dia afinal eu toparei comigo...
tenhamos paciência, andorinhas curtas,
só o esquecimento é que condensa,
e então minha alma servirá de abrigo."

Mário de Andrade

Do nascimento do amor



Diz a lenda que Penúria vivia a perambular pelo mundo à procura de um pouco de amor e de aconchego. A vida de Penúria não era nada fácil. Vivia enxotada daqui e dali.
Seu corpo não passava de ossos cobertos por uma pele seca e enrugada. Carne nenhuma se via nas suas faces, seus seios eram murchos e suas coxas flácidas, quase nenhum vigor se via nela, a não ser pelas enormes e poderosas unhas, que mais se pareciam com garras. Era como se toda a sua força se concentrasse nelas, para que desse modo, pudesse desesperadamente agarrar-se ao primeiro raio de sol que cruzasse seu caminho.
Certo dia houve uma festa grandiosa no Olimpo, mais uma das muitas que agitavam a morada dos deuses. Penúria se enchia de esperança nestes dias, pois a fartura era imensa, frutas saborosas por todo canto, néctar dos mais finos e raros, saborosos manjares, além de que, é claro, o que não pode faltar em uma balada que se preze, muitos convidados dispostos a encontrar sua outra metade, nem que fosse por uma noite.
Porém, sua presença causava pânico nas pessoas, e era só Penúria se aproximar que sua vítima desaparecia, isso fez dela uma especialista em toda sorte de fraudes e artimanhas.
Neste dia, Poros, o deus supremo da sabedoria e da abundância, estava tão embriagado de néctar que nem percebeu a presença moribunda de Penúria e não foi difícil para ela criar um disfarce que o seduzisse. Esta o envolveu com todo o seu querer e, pelo menos por aquela noite, Penúria teve sua fome saciada.
Ela alimentou-se do cheiro adocicado que desprendia do hálito de Poros, nutriu-se-se da sua carne e sorveu de seus humores, nenhuma única gota de suor ou de lágrimas foi desperdiçada.
No dia seguinte, ao acordar, Poros desesperou-se ao perceber que havia passado a noite com Penúria, mas nada mais havia que se pudesse fazer...
Desse encontro nasceu Vênus, por isso que ainda hoje se diz que o Amor é fruto da Abundância com a Penúria. Que é um querer imenso que nunca se sacia, que quanto mais se tem mais abandonado se sente.
Um verdadeiro padecer no paraíso...