23 dezembro 2009

Com-siderações


Considere o Tempo,
Considere o Espaço
Eles têm vida, têm energia,
Possuem temperamentos, personalidades próprias...

Caminhe de mãos dadas com eles
Como que amparado por dois baluartes
Anjos fortes à sua direita e à sua esquerda.

Compreenda suas nuances, seus tons, ritmos e humores...
Não haverá arrependimento.

Casamento que é casamento há que se considerar o outro
Casamento com a vida não é diferente
E vida é Tempo, é Espaço

Estamos todos imersos neste oceano
Que às vezes é fresco e suave
Em outros sufocante e arredio
Às vezes exagera, chora além da conta
Faz tempestade num copo d'água
Às vezes tão manso que sequer notamos sua presença...

Mas basta acompanhar o Céu
Passear de mãos dadas com as Estrelas

Para compreender que na vida temos que Com-Siderar
Estar junto...
Acompanhar a dança das estrelas
Viver no compasso dos astros
Não nadar contra a maré .

O Tempo e o Espaço, apesar de ilusórios
São, de fato, tudo o que possuímos.
Um casamento que nos acompanhará por toda a vida.
Talvez o único...

11 outubro 2009

Às vezes


Sinto o perfume do mar
Ouço o pulsar da terra
Tudo ao mesmo tempo
À setecentos quilómetros do litoral
e a não sei quantos do coração do planeta,
Como me chegam tais notícias?




Às vezes  gosto de pensar que sou coruja, joão-de-barro, bem-te-vi
Quem dera ser ave de um só lugar!
Conhecer meus vizinhos, seus costumes, seus segredos...
Falar das vidas alheias como se minha fossem,
saber das horas da cidade...

Mas não sou!
Sou ave migratória
Minha casa fica no norte,
no sul, no leste e no oeste

Meus dias me pertencem... e só a mim
Não sou
E nunca estou,
Para ninguém

- Vai cansar de bater, seu moço. Ela se foi.
O nome? Sei não!
Só sei que era uma moça loira, às vezes também morena...
tinha 2 gatos e 2 cachorros, gostava de limpar a casa de madrugada
e dependurar as roupas no varal ao amanhecer.
Tinha um pé de alecrim lindo...
O nome não sei não...

09 setembro 2009

Deixar ir...



o Domingo
o Sol
a Juventude
os Antigos Amores.
Para que a Segunda venha
a Chuva venha
a Velhice venha
Novos Amores venham
a Morte venha.


Dizem os budistas que a raiz de todas as dores está no apego.
O rabino Nilton Bonder, em um curso, disse que quando uma pessoa não quer morrer, ou seja, está agonizando, mas não consegue desprender-se da vida, se faz necessário uma conversa com o quase morto sobre o por quê de ele não querer ir, da importância de 'soltar' as pessoas, os bens ou qualquer coisa que o mantenha preso a essa vida.
Tarefa muito difícil para os familiares, pois, apesar do sofrimento, ainda preferimos a pessoa viva. Por isso a necessidade de um rabino, pastor, benzedor, padre ou qualquer outra pessoa isenta de emoção por aquele ser para 'conversar' com o escolhido da Dona Morte.
Estava com uma gatinha doente há meses. Passamos por mudanças de casa, de cidade, sofremos um grave acidente de carro e muitas outras situações delicadas nesse tempo. E, mesmo em seu corpinho cansado, ela aguentou firme ao meu lado.
Na verdade sempre foi assim. Sua mãe, Marie, só deu à luz à Cindi e aos seus irmãos quando eu pude estar ao seu lado e, desse modo, acompanhar e auxiliar no parto.
Minha filha a adotou, mas ela me escolheu.
Animais têm dessas coisas: pensamos que escolhemos, mas nós é que somos escolhidos.
Suspeito ser isso coisa de anjo.
Ela acompanhou meus anos na faculdade, meu desenvolvimento profissional. Acompanhou cada passo do crescimento da minha filha. Mudanças pessoais, doenças e alegrias.
Com exceção das noites em que estive viajando, nunca dormiu separada de mim. Sempre fazia questão de deixar uma pata encostada no meu corpo como quem diz "olha, estou aqui". E sempre esteve.
Figura silenciosa e misteriosa mais que todos os outros gatos que já tive. Não conhecemos o som do seu miado. Jamais se interessou em conhecer a rua e deixava bem claro que só adorava a mim e só a mim 'prestava reverência', ignorando por completo os demais.
Eu costumava brincar com a minha filha dizendo que ela, a Cindi, era minha conselheira. Mas, de alguma forma que não sei explicar, nos comunicávamos.
Hoje não foi diferente.
Na sua agonia de morte não conseguia me afastar dela e não me permitia soltar sua pata. Decidi que não almoçaria e adiaria todos os compromissos.
Ela disse 'não', que não concordava com isso e que nossa 'conversa' seria breve! Insisti.
Falei, da boca pra fora que compreendia que havia chegado sua hora.. mas não a soltava. Queria manter com meus dedos os frágeis fios de vida que a prendiam.
Com muito custo sentei-me numa cadeira distante e em pensamento lamentava seus últimos meses e pensava no quão injusta é vida! Ela me disse "Não é esse o fio de raciocínio que quero que siga". "Tudo bem", respondi. Respirei fundo. Resolvi silenciar a mente tagarela.
De repente o que comecei a sentir foi uma enorme gratidão por todos os anos em que ela se dedicou a mim. Por sua companhia, presença, 'conselhos' e amor. Compreendi que precisava deixá-la ir, que estava sendo cruel e egoísta querendo mais tempo a seu lado.
"Sou humana, Cindi".
Me fez prometer que me cuidaria melhor e que seria uma boa companheira de mim mesma e de quem quer que fosse, como ela me ensinou.
Morreu em paz, depois dessa nossa última conversa.


23 agosto 2009

Osho, Marisa Monte, cácto-dália...



O ser humano é antagónico por natureza. Bem, pelo menos eu sou. Se está junto, quer estar separado, se parado, quer estar junto! E aí?O que fazer?
Há um livre de Osho que se chama “Amor, liberdade e solitude”, na introdução ele diz:

É belo estar só e também é belo amar, estar com pessoas...
Não há nada pelo qual mais lutamos que por estar junto, por um relacionamento. Mas como somos difíceis! Penso que não sabemos viver juntos porque antes não sabemos viver sós. Fazemos parte de uma sociedade que vê com maus olhos as pessoas que vivem só, e nós nos vemos com esses mesmos olhos...
Parece que algo falta.

Há uma música que a Marisa Monte canta que diz “...Não é fácil não pensar em você, não é fácil não te contar meus planos, não te encontrar todo dia de manhã enquanto tomo meu café amargo...”, na letra está implícita a situação de uma pessoa que acabou de separar-se: o levantar-se só, tomar o café só, não ter mais com quem dividir as banalidades (deliciosas) do dia a dia... Realmente isso dói, daí o nome da música "Não é fácil"!

Meus textos andam me cansando, às vezes desisto de escrever, pois penso: lá vou eu de novo bater na mesma tecla, do quão dolorosa é uma separação! Estou parecendo tema de música sertaneja. Eu não me aguento!
Mas, o que fazer? Já disse que não sei escrever de nada que é estranho a mim, sou autista e só entendo do meu próprio universo, do que sinto e de como percebo as coisas.
No livro “Comer, amar, rezar”, a autora, que também é a protagonista da história, percorre a mesma via crucis de todo ‘separado’ de se perguntar infinitas vezes “Por quê?Por quê?...” Até um dia em que sentada no chão de tábuas de um simples hotel em Roma, comendo com as mãos, salmão e aspargos fresquíssimos, comprados e preparados por ela, ela percebe claramente: sim, foi para isto que me separei: para poder comer sentada no chão o que gosto e do modo que bem entender!

Claro que ninguém se separa por um motivo tão fútil. Isso é apenas uma metáfora.
Quer dizer que o casamento, ou qualquer relacionamento, exige que cumpramos à risca uma série de protocolos. Ou seja, normas sociais pré-estabelecidas, que no fim das contas acabam por se tornar um fardo pesadíssimo, indo contra a nossa alma naturalmente sedenta de liberdade. Não compreendemos que jamais deixaremos de amar o outro, se o amor de fato existiu. O que não amamos são as amarras que vão se formando em torno de nós, cerceando-nos a liberdade, que é o anseio primordial de todo ser humano. Até mesmo superior ao anseio por amor.
Em outra música cantada por Marisa Monte ela diz “Você me deixou satisfeita. Nunca vi deixar alguém assim, você me livrou do preconceito de partir, agora me sinto feliz assim. Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinha? Viver tranquila, a liberdade é quem me faz carinho. Na minha vida não têm pedras nem espinhos, eu durmo sereno e acordo com o canto dos passarinhos...” É o caminho de quem já sofreu, mas descobriu que pode ser feliz sem ter um ‘namorado’. Descobriu a diferença entre solidão e solitude.
O problema é a gente acostumar com isso, o que não é difícil! Ninguém para reclamar que levantamos demais à noite, ninguém para desarrumar a casa ou para querer arrumá-la, poder dormir com o som ligado, acordar com a janelas abertas...
Casei-me muito cedo. Sai da casa dos pais para a faculdade e antes de terminá-la já estava casada e com uma filha. Uma vez em que minha filha estava de férias e meu ex-marido viajando fui ao supermercado, como de costume, ao menos achei. De repente parei no meio do corredor e não sabia o que comprar. Eu não sabia do que eu gostava de comer. Estava acostumada com o que minha família comia, depois com o que o refeitório da Universidade servia e mais tarde com as preferências da minha nova família. Aí está o problema de quem nunca viveu só. De quem não se conhece de fato e se mete num relacionamento complexo como é o casamento.
Como na música “Não é fácil”, todos os dias sofro a ausência da família desfeita. Mas também descubro, cada dia mais, que também posso me sentir “feliz sozinha”. E como no livro “Comer, amar, rezar” também descobri a alegria de poder pintar meu quarto de verde-kiwi com cacto-dália (um rosa escandalosamente alegre)! E cheguei a conclusão, assim como Osho, de que não existe estado superior ou inferior, nem é melhor viver sozinho, nem é melhor estar junto. Mas que o importante é como ele diz:
“Quando estiver acompanhado, aproveite, e aproveite ao máximo, sem se preocupar com a solidão (medo de perder). E quando estiver saturado, mergulhe na solitude e, também, aproveite ao máximo. Mas o mais importante de tudo: antes de tentar encontrar amor fora de você, encontre-o dentro. Se conheça”!
Sábio conselho.

19 agosto 2009

Sepulcros

Acho que podemos medir a necessidade de afirmação de algumas famílias e pessoas pelos seus túmulos. Assim como pelos cemitérios de uma cidade ou de uma povo.
Criança do interior de São Paulo, 30 anos atrás, desconhecia os túmulos o tipo "mausoléus", o"mármore", as colunas... e todos os demais símbolos de status de que uma cova é capaz.
Os túmulos da minha infância eram simples caixotes de tijolos, cobertos na superfície por algum azulejo barato e caiado em volta.
O muro era branco, assim como a capela, os caminhos de terra vermelha, que tingiam os rodapés e os pés calçando chinelos dos visitantes.
O coveiro que nunca era visto, era quase uma figura mítica. Em plena sintonia com os habitantes do lugar: silencioso e oculto.
Nem árvores havia, só algumas florezinhas mais resistentes, que insistiam em nascer naquele ambiente hostil e descuidado: o camará, como lembrança de que os amigos fiéis permanecem para sempre; por isso o nome da planta: 'camará', que vem de 'camaradagem'. O cosmos, com seu tom alaranjado e descaradamente alegre. E o capitão, uma espécie de margarida rústica e resistente de tons vibrantes. Todas nascem sozinhas, como morremos sozinhos.
Mas havia, sem dúvida, uma maneira de identificar os ricos dos pobres. Os túmulos dos mais abastados eram aqueles que ficavam perto do portão principal ou junto à capela. Quanto mais pobre, mais distante. Igualdade não faz parte deste mundo. Mesmo neste mundo de túmulos simples e sem ornamentos.
Nas capitais tudo era muito diferente: imagens bíblicas esculpidas em mármore, anjos, arcanjos e toda a hierarquia celestial, além de torres, andares, altares e as mais diversas imagens.
E as flores: rosas, cravos, crisântemos..todas trabalhadas em forma de coroas e buquês.
Acredito que, quem cresceu numa cidade grande, aprendeu desde cedo que as diferenças sociais existem e são gritantes, até entre aqueles que já não vivem mais.
Hoje percebo como é difente quem foi criado no interior de quem foi criado em uma grande cidade, como São Paulo, por exemplo. No interior reconhecíamos os 'ricos' pela quantidade de terra que possuia. Mas eram pessoas que compravam nos mesmos bares que os outros, estudavam na mesma escola que todos, frequentavam a mesma igreja e eram enterrados em túmulos que, a não ser pela localização privilegiada, eram iguais.
Não sei se vivi num sonho, mas jamais me peguei comparando minhas posses com as de ninguém. Vivi e vivo como aquelas flores dos cemitérios de quando era criança: alegres, vivas e indiferentes à distinção de classes e posições sociais.
Pois no final das contas, ou da vida, com pompa, ou sem ela, mármores ou não, em seus interior os túmulos serão sempre iguais: ossos e nada mais.

21 fevereiro 2009

Augusteum



"...No caminho de volta para casa, faço um pequeno desvio e paro no endereço de Roma que considero o mais estranhamente perturbador - o Augusteum. A pilha de tijolos grande, circular e caindo aos pedaços começou a vida como um glorioso mausoléu construído por Otaviano Augusto. Como ele poderia ter previsto a queda do império?

Na Idade Média, o mausoléu de Augusto foi tomado pelas ruínas e pelos ladrões. Alguém roubou as cinzas do imperador - não se sabe quem. Já no séc. XII, porém, o monumento havia sido restaurado como uma fortaleza para a poderosa família Colonna, para protegê-la dos ataques de vários príncipes guerreiros. Em seguida, o Augusteum, foi transformado em vinhedo, depois em jardim renascentista, depois em praça de tourada (já estamos no séc. XVIII), depois em depósito de fogos de artifício, depois em sala de concertos. Durante a década de 1930, Mussolini confiscou a propriedade e restaurou suas bases clássicas, para que ela pudesse, um dia, servir de local de descanso para seus restos mortais. (Mais uma vez, devia ser impossível, na época, imaginar que Roma jamais fosse ser qualquer outra coisa que não um império em louvor a Mussolini. É claro que o sonho fascista não durou muito, e tampouco ele teve o funeral imperial que previra.

Hoje em dia o Augusteum é um dos lugares mais tranquilos e solitários de Roma, enterrado bem no fundo no chão...

Considero muito reconfortante a resistência do Augusteum, o fato de essa estrutura ter tido uma história tão atribulada e, mesmo assim, ter sempre conseguido se ajustar à loucura específica de cada época. Para mim, o Augusteum é como alguém que levou uma vida totalmente louca - alguém que talvez tenha começado como dona-de-casa, depois inesperadamente ficado viúva, em seguida virado dançarina para ganhar dinheiro e, de alguma forma tenha se tornado a primeira mulher dentista do espaço sideral, e, por fim, tentado a sorte na política - e que, mesmo assim, conseguiu manter intacta a consciência de si próprio durante cada reviravolta.

Olho para o Augusteum e penso que, no final das contas, talvez a minha vida na verdade não tenha sido tão caótica assim. É apenas este mundo que é caótico e nos traz mudanças que ninguém poderia ter previsto. O Augusteum me alerta para eu não me apegar a nenhuma ideia inútil sobre quem sou, o que represento, a quem pertenço ou que função eu poderia ter sido criada para exercer. Sim, eu ontem posso ter sido um glorioso monumento a alguém - mas amanhã posso virar um depósito de fogos de artifício. Até mesmo na cidade Eterna, diz o silencioso Augusteum, é preciso estar preparado para tumultuosas e intermináveis ondas de transformação..."


"Comer, Rezar, Amar", de Elizabeth Gilbert

10 fevereiro 2009

Separação



Muitos (ou pelo menos os mais corajosos!) me perguntam o motivo pelo qual me separei.

Neste ponto sou uma pessoa difícil! Pois acredito dever satisfação a bem poucas pessoas neste mundo.

De modo que a primeira resposta que me faz cócegas na língua é: "Não é da sua conta! ". Contudo, jamais daria essa resposta. Não para manter a fama de gente boa e bem educada, pois não há nada mais inútil que tentar agradar a todos!

Não dou tal resposta pelo simples fato de respeitar a simplicidade, ou em outras palavras, a ignorância, de algumas pessoas. Para quem saber o que acontece na vida alheia é sua única, e pobre, razão de viver.

Sou pela tolerância!

É difícil explicar, ou convencer, que não se está deixando a relação porque apareceu uma terceira pessoa. Aliás, não sei o por quê de os seres humanos gostarem tanto de histórias de traição, ou seriam histórias de amores arrebatadores capazes de fazerem desmoronar anos de casamento?

Também não me sinto tentada a justificar apontando as centenas de falhas e defeitos do ex-cônjuge, pois teria que falar também das minhas centenas de falhas e defeitos! E, no final das contas, tolerar "tantas falhas" por 17 anos não seria virtude alguma, nem para ele e nem para mim. Melhor calar. Menos feio.

Após anos de convivência pequenas desculpas não colam mais! Talvez por isso, não "colarem mais" que o casamente se desfaz. Ou porque nos fragmentamos em tantos "eus": o "eu-mãe", "eu-esposa", "eu-amiga", "companheira", "filha", "dona-de-casa", "profissional", "nora"...que fica difícil nos achar e saber quais "eus" queremos, de fato, assumir. Confuso, não?

Me perdi pelo caminho. Não soube fazer um belo mosaico dentro das diversas funções que assumi dentro do modelo de casamento que fui construindo ao longo dos anos.

Quem sabe consiga fora, com os cacos que restaram dessas várias "patrícias"?

Mas, difícil mesmo é explicar que 'adeus' nem sempre quer dizer 'desamor'. E que 'sim' não necessariamente significa 'amor'.

Que relacionamentos não são feitos de regras matemáticas: soma-se um rapaz bonzinho + uma moça boazinha e, pronto, eis aí uma união perfeita!

Há um momento em que o mundo, tal qual o conhecemos, parece submergir. Tudo deixa de fazer sentido. Vira do avesso.

E como é difícil reconhecer e, o pior ainda, admitir, que não se deseja mais estar casada!

Ao menos para mim foram meses de angústia, de um debate interno interminável e lágrimas que pareciam nunca se esgotar.

Também não escapei de me fazer, pelo menos meio milhão de vezes, a famigerada pergunta: "por quê?". Mas eu posso fazê-la, afinal é a minha vida!

Nunca obtive a resposta!

Quem dera a tivesse!!

Seria tão mais fácil saber por que deixei meu cantinho do lado direito da cama, de onde podia acompanhar a lua em suas várias fases? Por que deixei meus cachorros, companheiros calorosos e ternos, os quais amo profundamente? Uma casa novinha, construída por mim, plantas que me acompanhavam há anos e tantas outras alegrias???

É desesperador não ter respostas. Descobrir que não há culpados, muito menos vítimas!

Chamo sim, de 'vítimas', filhos que convivem num lar onde impera a aparência de uma união feliz, onde os pais se maltratam, se não fisicamente ou verbalmente, mas em guerras frias e silenciosas.

Não convivi com este tipo de situação. Mas para mim, tudo o que parecia perfeito aos olhos dos outros, tornou-se pouco, pequeno, diante da urgência de me encontrar. De ficar quietinha comigo mesma. O isolamento se fez imprescindível, a separação de tudo aquilo, tornou-se uma questão de sobrevivência.

Loucura? Depressão? Encosto? Macumba?

Desculpas boas para quem vive procurando uma razão para tudo.

Descobri que quando o assunto é relacionamento, a razão, assim como a lógica, não dão conta de explicar o por quê se fica junto e por quê se separa. Quem sabe o tempo, ao menos espero, seja capaz de clarear os motivos que me levaram a tomar a atitude de mudar radicalmente de vida e deixar tudo o que mais amava para trás pelo simples fato de continuar vivendo.

Difícil é explicar isso pro pai, pra mãe, para as pessoas que amamos! Justamente eles que vivem dizendo que "Deus escreve certo por linhas tortas"...Quem sabe não será esse "caminho torto" que me conduzirá até onde eu deveria verdadeiramente estar?

Como explicar que "perfeição" nem de longe serve de sinônimo para "felicidade? Que nem rima fazem!

Que a vida é feita de riscos. Nos arriscamos quando casamos. Nos arriscamos quando separamos. Arriscamos quando temos filhos e também quando não temos. Viver é risco permanente. Essa é a única resposta que tenho, tanto para eles, quanto para mim.

Absolutamente nenhum motivo mais concreto ou passional, que pelo menos oferecesse uma boa trama de novela ou livro!

22 janeiro 2009

"Dar um tempo"



" Não conheço coisa mais irritante do que dar um tempo, para quem pede e para quem recebe...

Tentar desdobrar uma carta molhada é difícil. Ela rasga nos vincos. Tentar sair de um passado sem arranhar é tão difícil quanto. Vai rasgar de qualquer jeito...

Os pratos vão quebrar, haverá choro, dor de cotovelo, ciúme, inveja, ódio. É natural explodir. Não é possível arrumar a gravata ou pintar o rosto quando se briga. Não se fica bonito, o rosto incha com ou se lágrimas.

Dar um tempo é se reprimir, supor que se sai e se entra em uma vida com indiferença, sem levar ou deixar algo.

Dar um tempo é invenção fácil para não sofrer. Mas dar um tempo faz sofrer, pois não se diz a verdade.

... Aspira ao cinismo. É um jeito educado de faltar com a educação.

Dar um tempo não deveria existir porque não se deu a eternidade antes.

Quando se dá um tempo é que não há mais tempo para dar, já se gastou o tempo com a possibilidade de um novo romance...E amor não é consulta, não é terapia, para se controlar o tempo...

Qualquer um odeia eufemismo, compaixão, piedade tola. Odeia ser enganado com sinônimos e atenuantes. Odeia ser abafado, sonegado, traído por um termo. Que seja a mais dura palavra, nunca dar um tempo.

Dar um tempo é covardia, é para quem não tem coragem de se despedir...Não significa nada e é justamente o nada que dói.

....Dar um tempo é roubar o tempo que foi. Convencionou-se como forma de sair da relação limpo e de banho lavado, sem sinais de violência.

Ora, não há maior violência do que dar um tempo. É mandar matar e acreditar que não se sujou as mãos. É compatível em maldade com "quero continuar sendo seu amigo".

O que se adia não será cumprido depois."

Fabrício Carpinejar