30 abril 2008

A força dos caldos



A alimentação está diretamente ligada à divisão de classes sociais. Por questões aparentemente óbvias, mas nem tanto assim. Pois muito além do poder de compra de um determinado alimento, ou não, está o gosto pessoal e o hábito familiar. No livro "História da alimentação no Brasil", Fabião das Queimadas, um ex-escravo citado por Luis Câmara Cascudo diz:


"Branco não sabe comer. Cozido é que guarda as forças. O assado bota pra fora. Galinha assada é enfeite não é comida. Não tem força porque não tem caldo. O caldo é a força da comida."


Mal sabia ele sabe que estava coberto de razão e que isso já era sabido desde a época dos soldados romanos. Comida de soldado é carne assada. Será que pelo simples fato de ser mais fácil capturar uma caça, espetá-la em graveto e levá-la à fogueira? Eles podiam até pensar que sim, pelo força do hábito. Mas será que seria muito diferente de assar frutas, batatas, ou mesmo fazer um caldo com a caça?


O que acontece é que o tipo de alimento e o modo como ele é preparado afeta diretamente nossos níveis de energia, não apenas a física, mas a mental e emocional também, pois somos um todo complexo e interligado.
A ação do fogo sobre a carne quando assada potencializa aquilo que queremos botar pra fora. Faz com que não suportemos nossa própria animosidade de modo que necessitemos descarregar essa energia extra de alguma forma. Soma-se a isso outro ingrediente Yang, o álcool, pronto, o estrago está feito. Graças a Deus que o tempo das legiões romanas ficaram no passado!
Enquanto que o caldo, o ensopado ou a sopa fazem justamente o contrário. Elas não põem para fora a nossa força de forma descontrolada, nossa energia é trabalhada, purificada, só depois, manifesta.Por isso era o alimento dos monges e agricultores. É para quem precisa se recolher, se acolher, para fortalecer-se. Não importa se de legumes, de carne ou de ambos, a questão realmente não é o tipo de alimento e sim como ele é preparado. Essa alquimia fogo-alimento e fogo-alimento-água é que é responsável pelo resultado. Entra aqui um princípio tão antigo quanto simples: o equilíbrio dos 4 elementos essenciais: fogo, ar, água e terra.

Quanto assamos a carne estamos potencializando o elemento fogo, o que para algumas pessoas exageradamente apáticas é ótimo. Mas não é para todo mundo.
O bom e velho ensopadinho de carnes com legumes é o exemplo de equilíbrio, nele temos os 4 elementos bem proporcionados. O fogo, não em estado latente como no churrasco, mas uma quentura que permanece na carne de maneira mansa devido ao grande tempo de cozimento, temos a terra que são os legumes, os carboidratos e a água que aparece tanto na forma de vapor quanto liquida. Sabemos que um bom ensopado não se faz com um exagero de água, o legal é deixar tudo cozinhar equilibrando a quantidade exata de água e vapor, para que não queime e nem vire um aguacero, perdendo, assim a força e o sabor dos ingredientes.

Ou consuma os assados equilibrando-os com suco de frutas, purês, arroz. O importante é sempre pensar no equilíbrio energético, nos 4 elementos, nenhum pode sobressair-se a outro. Desse modo estaremos de acordo com uma das maiores leis da gnose: assim como é dentro é fora. Aquilo que você come reflete no seu exterior, não apenas esteticamente, mas principalmente no seu comportamento.

22 abril 2008

Educando os sentidos



As pessoas têm costume de falar que crianças não gostam de frutas , verduras ou legumes. Será que elas não gostam mesmo ou não são estimuladas a gostarem?

Somos seres de hábitos por isso não nascemos gostando de chuchu, abobrinha ou de escovar os dentes. Tudo isso se aprende no dia-a-dia, no convívio familiar.

Moro em uma cidade pequena que tem um dia muito especial, 5a. feira. O que faz com minha filha já levante da cama gritando: "- Mãe, hoje é dia de feira!" E em seguida reza logo um rosário de encomendas: caqui, brócolis, milho-verde, quiabo... Gosto de ver como ela sente prazer nos alimentos, como tem suas próprias vontades.

Admito: sou uma mãe de sorte! Ou será que minha filha é que é uma criança de sorte que nasceu em uma casa que acredita que educação é muito mais que aprender a ler, escrever e respeitar os mais velhos?

Quando ainda era bebê, que mal andava, já sabia colher pitangas na árvore e gostava de engatinhar atrás das galinhas na casa da minha mãe. Esta, por sua vez, vazia questão de deixar cada fruta em seu pé para que a neta fosse pessoalmente colhê-las, desse modo conhecesse a planta, suas folhas e aromas originais. Meu pai, por sua vez, a carregava para o rancho e ensinava como pegar as minhocas na terra e colocá-las no anzol, assim como pegar o peixe com carinho e prepará-lo.

Brincar com barro, rolar na areia, colher verdura nem que seja na floreira de casa, identificar as plantas pelo cheiro, ouvir música clássica, samba, sertaneja, comer ostras, chupar limão, ler poesia, história em quadrinhos, tudo isso põe a criança em contato com o mundo, ou pelo menos uma amostra dele.

É importante desvelar diante dos nossos filhos a maior gama de possibilidades de que o mundo é feito, só desse modo somos capazes de desenvolver suas potencialidades, além de mostrar que a vida, por si só, é muito saborosa e interessante, sem subterfúgio algum.

Educar é dar um passo além. É abrir-se para o mundo, dialogar com ele, e só nessa interação, crescer. Esse é o método dialético.

A educação é infinitamente abrangente, não é complicada, de forma alguma, mas é coisa para curioso, para quem tem fome de mundo.

Onde foi parar a alegria?



Não sei se é algo pessoal, desconfio que não pelo que tenho conversado com as pessoas, mas ando notando que o ar tornou-se muito pesado no último mês. Talvez devido, em parte, ao acontecimento cruel do caso Isabela. Fomos submetidos a uma overdose de desamor e tristeza. Nas ruas não se vê ou fala em outra coisa. A atmosfera das casas está impregnada com o que sai da TV. Por mais que tentamos evitar, sabendo que a felicidade é um estado interno, não dá para ficar insensível diante dos fatos. Parece que o baixo astral tomou conta. Xô!

Nietzche dizia que o nosso único pecado original é a falta de alegria. Concordo. Já nascemos com esse gostinho pelo melodrama.

Acredito que o Mal é exaltado toda vez que ficamos dando muita atenção a ele. Do mesmo modo o Bem.

Estamos em pleno mês de Abril, tem chovido bastante e a natureza está vestida de um verde deslumbrante. Reparou?

E o que dizer do céu limpo e claro, azulzinho que só ele?

No outono parece que até o mar fica com uma luminosidade diferente devido as diferentes combinações de cores do ar.

A terra, nestes dias, não carrega a exuberância da primavera. Não! Carrega algo muito melhor: a promessa do esplendor. Aquele cheiro de café sendo coado que é melhor que o próprio café.

Há fatos tristes, sem dúvida. Merecem nossa atenção e reflexão, mas não podemos nos demorar demais neles, sob o risco de baixarmos a vibração das nossas casas, cidades e de nós mesmos, desse modo adoecemos, ficamos piores.

Resgatar a alegria é o nosso dever diário, nossa maior obrigação nesta vida. O melhor que podemos fazer pela alma da própria Isabela e da sua já tão destruída família. E não piorarmos mais com sentimentos que não nos cabem de modo algum.



09 abril 2008

O que é suficiente?



Se existe uma palavra que para mim nunca basta em si mesma é "suficiente". Palavra vaga e vazia. Não é nem 'chega' e nem 'quero mais', fica no meio que é lugar nenhum.
Quando, então, falamos de sentimento, ai que se complica mais o seu uso. Dizem que não há limite para ficar ao lado de quem se gosta, será?

Quem nunca sentiu que pesou? Que passou da conta?

Porém o que torna pior nesta relação é que o suficiente para um, não é o mesmo suficiente para o outro.

Que quantidade de amor é suficiente, de horas juntos, de palavras melosas? Quanto é suficiente? Qual o peso e qual a medida a utilizar?
Acredito que o único sistema de medida válido para isso se chama Alegria, a minha e a do outro. Se ela está presente, então há porque permanecer, se não, esqueça, chegou a hora de partir.

Fragmentos

Quem parte sempre
deixa um pouquinho de si.
Quem fica, nunca está
totalmente presente.

06 abril 2008

Casa sem portas



Meu amor é uma casa sem portas
Entrar e sair é uma questão de escolha, de livre-arbítrio.
Aquele que é convidado é sempre bem-vindo,
Encontra a mesa farta,
Uma cama bem feita e águas abundantes para banhar-se.
Mas não encontra cadeias, algemas ou amarras
Só se fica por vontade, se os seus sentimentos assim quiserem.
Nesta casa sempre aberta o sol não precisa pedir licença para entrar,
Do mesmo modo que o vento e a chuva.
Às vezes, o vento, tal qual menino arteiro,
Traz um pouco de desordem,
Porém ordenar é o meu destino santo de mulher
Por isso não me incomodo ou faço turbilhão,
Com alegria e pulso firme ponho tudo no lugar.
Viver é isso: deixar que venha e que vá
Aceitar de bom grado e peito aberto o que a vida tem para oferecer
E praticar a generosidade com todas as criaturas
Sem querer guardar para si nenhuma brisa ou grão de areia.
Nem se eu quisesse poderia,
Nesta casa sem portas nada se acumula,
Nem de bom ou de ruim.
A água da chuva o sol seca, as terras dos sapatos o vento varre,
A poeira a chuva lava.
Neste ciclo sem fim, nada é permanente e é.
Espaço aberto, pleno de vazio, sombras e luzes,
Quem assim, quiser habitá-lo, tem que trazer a alma leve,
livre de bugigangas
Saber que aqui, o amor é sempre bem vindo,
juntamente com tudo o que ele têm de bom:
liberdade, suavidade e delicadezas.

02 abril 2008

Se o sol...

(...) Se o sol se cansa
e a noite lenta
quer ir pra cama,
marmota sonolenta,
eu, de repente,
inflamo a minha flama
e o dia fulge novamente.
Brilhar pra sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é pra brilhar!
Este é o meu slogan
e o do sol.

Vladimir Maiakóvski