23 agosto 2009

Osho, Marisa Monte, cácto-dália...



O ser humano é antagónico por natureza. Bem, pelo menos eu sou. Se está junto, quer estar separado, se parado, quer estar junto! E aí?O que fazer?
Há um livre de Osho que se chama “Amor, liberdade e solitude”, na introdução ele diz:

É belo estar só e também é belo amar, estar com pessoas...
Não há nada pelo qual mais lutamos que por estar junto, por um relacionamento. Mas como somos difíceis! Penso que não sabemos viver juntos porque antes não sabemos viver sós. Fazemos parte de uma sociedade que vê com maus olhos as pessoas que vivem só, e nós nos vemos com esses mesmos olhos...
Parece que algo falta.

Há uma música que a Marisa Monte canta que diz “...Não é fácil não pensar em você, não é fácil não te contar meus planos, não te encontrar todo dia de manhã enquanto tomo meu café amargo...”, na letra está implícita a situação de uma pessoa que acabou de separar-se: o levantar-se só, tomar o café só, não ter mais com quem dividir as banalidades (deliciosas) do dia a dia... Realmente isso dói, daí o nome da música "Não é fácil"!

Meus textos andam me cansando, às vezes desisto de escrever, pois penso: lá vou eu de novo bater na mesma tecla, do quão dolorosa é uma separação! Estou parecendo tema de música sertaneja. Eu não me aguento!
Mas, o que fazer? Já disse que não sei escrever de nada que é estranho a mim, sou autista e só entendo do meu próprio universo, do que sinto e de como percebo as coisas.
No livro “Comer, amar, rezar”, a autora, que também é a protagonista da história, percorre a mesma via crucis de todo ‘separado’ de se perguntar infinitas vezes “Por quê?Por quê?...” Até um dia em que sentada no chão de tábuas de um simples hotel em Roma, comendo com as mãos, salmão e aspargos fresquíssimos, comprados e preparados por ela, ela percebe claramente: sim, foi para isto que me separei: para poder comer sentada no chão o que gosto e do modo que bem entender!

Claro que ninguém se separa por um motivo tão fútil. Isso é apenas uma metáfora.
Quer dizer que o casamento, ou qualquer relacionamento, exige que cumpramos à risca uma série de protocolos. Ou seja, normas sociais pré-estabelecidas, que no fim das contas acabam por se tornar um fardo pesadíssimo, indo contra a nossa alma naturalmente sedenta de liberdade. Não compreendemos que jamais deixaremos de amar o outro, se o amor de fato existiu. O que não amamos são as amarras que vão se formando em torno de nós, cerceando-nos a liberdade, que é o anseio primordial de todo ser humano. Até mesmo superior ao anseio por amor.
Em outra música cantada por Marisa Monte ela diz “Você me deixou satisfeita. Nunca vi deixar alguém assim, você me livrou do preconceito de partir, agora me sinto feliz assim. Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinha? Viver tranquila, a liberdade é quem me faz carinho. Na minha vida não têm pedras nem espinhos, eu durmo sereno e acordo com o canto dos passarinhos...” É o caminho de quem já sofreu, mas descobriu que pode ser feliz sem ter um ‘namorado’. Descobriu a diferença entre solidão e solitude.
O problema é a gente acostumar com isso, o que não é difícil! Ninguém para reclamar que levantamos demais à noite, ninguém para desarrumar a casa ou para querer arrumá-la, poder dormir com o som ligado, acordar com a janelas abertas...
Casei-me muito cedo. Sai da casa dos pais para a faculdade e antes de terminá-la já estava casada e com uma filha. Uma vez em que minha filha estava de férias e meu ex-marido viajando fui ao supermercado, como de costume, ao menos achei. De repente parei no meio do corredor e não sabia o que comprar. Eu não sabia do que eu gostava de comer. Estava acostumada com o que minha família comia, depois com o que o refeitório da Universidade servia e mais tarde com as preferências da minha nova família. Aí está o problema de quem nunca viveu só. De quem não se conhece de fato e se mete num relacionamento complexo como é o casamento.
Como na música “Não é fácil”, todos os dias sofro a ausência da família desfeita. Mas também descubro, cada dia mais, que também posso me sentir “feliz sozinha”. E como no livro “Comer, amar, rezar” também descobri a alegria de poder pintar meu quarto de verde-kiwi com cacto-dália (um rosa escandalosamente alegre)! E cheguei a conclusão, assim como Osho, de que não existe estado superior ou inferior, nem é melhor viver sozinho, nem é melhor estar junto. Mas que o importante é como ele diz:
“Quando estiver acompanhado, aproveite, e aproveite ao máximo, sem se preocupar com a solidão (medo de perder). E quando estiver saturado, mergulhe na solitude e, também, aproveite ao máximo. Mas o mais importante de tudo: antes de tentar encontrar amor fora de você, encontre-o dentro. Se conheça”!
Sábio conselho.

19 agosto 2009

Sepulcros

Acho que podemos medir a necessidade de afirmação de algumas famílias e pessoas pelos seus túmulos. Assim como pelos cemitérios de uma cidade ou de uma povo.
Criança do interior de São Paulo, 30 anos atrás, desconhecia os túmulos o tipo "mausoléus", o"mármore", as colunas... e todos os demais símbolos de status de que uma cova é capaz.
Os túmulos da minha infância eram simples caixotes de tijolos, cobertos na superfície por algum azulejo barato e caiado em volta.
O muro era branco, assim como a capela, os caminhos de terra vermelha, que tingiam os rodapés e os pés calçando chinelos dos visitantes.
O coveiro que nunca era visto, era quase uma figura mítica. Em plena sintonia com os habitantes do lugar: silencioso e oculto.
Nem árvores havia, só algumas florezinhas mais resistentes, que insistiam em nascer naquele ambiente hostil e descuidado: o camará, como lembrança de que os amigos fiéis permanecem para sempre; por isso o nome da planta: 'camará', que vem de 'camaradagem'. O cosmos, com seu tom alaranjado e descaradamente alegre. E o capitão, uma espécie de margarida rústica e resistente de tons vibrantes. Todas nascem sozinhas, como morremos sozinhos.
Mas havia, sem dúvida, uma maneira de identificar os ricos dos pobres. Os túmulos dos mais abastados eram aqueles que ficavam perto do portão principal ou junto à capela. Quanto mais pobre, mais distante. Igualdade não faz parte deste mundo. Mesmo neste mundo de túmulos simples e sem ornamentos.
Nas capitais tudo era muito diferente: imagens bíblicas esculpidas em mármore, anjos, arcanjos e toda a hierarquia celestial, além de torres, andares, altares e as mais diversas imagens.
E as flores: rosas, cravos, crisântemos..todas trabalhadas em forma de coroas e buquês.
Acredito que, quem cresceu numa cidade grande, aprendeu desde cedo que as diferenças sociais existem e são gritantes, até entre aqueles que já não vivem mais.
Hoje percebo como é difente quem foi criado no interior de quem foi criado em uma grande cidade, como São Paulo, por exemplo. No interior reconhecíamos os 'ricos' pela quantidade de terra que possuia. Mas eram pessoas que compravam nos mesmos bares que os outros, estudavam na mesma escola que todos, frequentavam a mesma igreja e eram enterrados em túmulos que, a não ser pela localização privilegiada, eram iguais.
Não sei se vivi num sonho, mas jamais me peguei comparando minhas posses com as de ninguém. Vivi e vivo como aquelas flores dos cemitérios de quando era criança: alegres, vivas e indiferentes à distinção de classes e posições sociais.
Pois no final das contas, ou da vida, com pompa, ou sem ela, mármores ou não, em seus interior os túmulos serão sempre iguais: ossos e nada mais.