20 agosto 2008

Palavra singela



Busco a palavra singela,
A expressão exata de mim mesma.
Não procuro termos rebuscados nem difíceis,
Muito menos mostrar conhecimento algum.
Poesia é muito mais que isso.
Ela não é nenhum tratado sobre o amor, a dor ou a beleza.
É o próprio amor, a própria dor, a própria beleza.
A prosa sim, pode cuidar de explicar,
como flecha tem a missão de ser objetiva, como agrada a mente.
Poesia é bolha-de-sabão, brincadeira de criança,
experiência física, linguagem que só o corpo conhece.

Época de eleição, eu proponho uma nova lei: abraço e beijo têm que constar na cesta básica de todo ser humano!



Outro dia li o seguinte:


"4 abraços por dia, dão para sobreviver; 8, ajudam a nos sentir vivos; 12, fazem a vida prosperar"


Tenho um amigo que possui sérias complicações motoras que, infelizmente, são irreversíveis. Isso porque desde o seu nascimento até mais ou menos 2 anos de idade, ele passou no berço de um orfanato. Não lhe faltaram banhos, roupas limpas, nem alimento. Mas faltou sim o imprescindível: o colo, o contato físico!

Quando nasci, era a única criança em casa para 4 adultos, meus pais e meus avós. De modo que passava o dia de colo em colo. No contado carinhoso daqueles braços, ouvindo as mais diferentes cantigas, ritmos e balanços que cada um me proporcionava cada qual a seu modo. Carinho nunca é demais, e a gratidão que sinto pelo amor de cada um deles seria impossível descrever.

Jamais concordei que lugar de criança seja no berço ou no carrinho. Afinal, anatomicamente, fomos feitos pra acolher, abraçar, ninar, coisas que, por mais modernos e bem feitos que esses equipamentos sejam não conseguirão proporcionar.

Mas, se nas crianças a falta de afeto cria problemas tão visíveis, o que será que acarreta nos adultos? Difícil saber ao certo, mas podemos ter uma idéia tal a quantidade de neuras e bloqueios que sentimos na própria pele e ao observamos nosso redor. O mais comum é o insano rodízio de parceiros sexuais entre as pessoas, pois o sexo é o contato mais direto que o adulto conhece e se permite. Tanto que em uma briga de marido e mulher a primeira coisa que se restringe é o sexo, que não é mais do que uma punição e significa: estou te privando do que há de melhor para o ser humano: o toque.

Assim as deficiências, as carências, vão se acumulando, pois se, conscientemente podemos saber que somos amados, sentir-se amado é coisa bem diferente.

Muitos justificam sua dificuldade em lidar com o contato físico com expressões do tipo: "meu filho (esposa, pai...)sabe que eu o amo, que tudo o que faço é por ele (por ela...)por isso não preciso ficar de beijos e abraços!"

Será?

É difícil admitir, mas a capacidade de demonstrar afeto por meio do contato físico é uma forma de inteligência. A boa notícia é que todos podemos desenvolver esse lado, se até os políticos conseguem! E o resultado é tão efetivo que muitos eleitores passam por cima do caráter do candidato só por causa do seu temperamento caloroso.

Você já se perguntou por que é tão difícil no dia-a-dia abraçar uma, duas, três vezes nossos familiares? Onde está escrito que é exagero?

E os amigos? Até os de trabalho, lógico que será diferente, mas podemos dar pequenos toques demonstrando solidariedade, admiração ou simplesmente um 'podecontarcomigo'.

Quem não gosta de chegar num lugar e ao invés de um simples aperto de mão, esse vier acompanhado de um abraço, de um cafuné, um afago , mistura tudo isso a um olhar sincero, pronto!

Dá pra entender porque a frase do início do texto diz que com muitos momentos assim a vida prospera, pois o afeto fortalece de tal modo que nos sentimos capazes de tudo. Ao contrário da falta de afeto que pode minar as forças até de um gigante.



17 agosto 2008

Mês de cachorro-louco?!?




Agosto, mês de cachorro-louco, por isso mês da raiva. De onde tiraram isso?

Será que o ditado tem razão: onde há fumaça há fogo?

Mas justo Agosto, um mês tão sóbrio, tão elegante! Representado pelo número 8, símbolo do infinito!

Para mim, em especial, o mês de Agosto sempre teve um ar de tristeza, tinha 3 anos quando meu avô morreu no dia 22 desse mês. Tenho apenas flashes de lembranças dessa época. Lembro-me dele deitado em uma mesa fria. Depois, no cemitério, a sensação de abandono e desalento, não apenas por causa da tristeza das pessoas, mas também pela secura das plantas, pelo vento monótono e enjoado, característico do mês. Desde, então, essa foi a minha percepção de Agosto. Além do mais que neste mês não há uma só data comemorativa, um feriadinho e, na minha família, nenhum aniversário!

Porém mesmo sem festa, Agosto deixou de ser um mês triste para mim.

É um mês forte, sem dúvida, mas não necessariamente ruim. Percebo as pessoas mais recolhidas, voltadas às suas próprias vidas, talvez seja época de armazenar forças para darmos conta de tudo até o final do ano.

Sinto que é isso: época de semear no escondidinho da terra do nosso íntimo nossos sonhos e projetos, por isso, tudo fica mais silencioso e temos a impressão de que silêncio é tristeza, o que não é verdade.

Este ano, em especial, fomos contemplados por 2 eclipses muito fortes neste mês e uma conjunção planetária singular, formada pelos grandes titãs do céu: Sol, Urano, Plutão e Marte, planetas poderosos, propulsores de reviravoltas e mudanças, que em outras palavras significa, energia extra! Justamente porque, como tão bem explica a física: para vencermos a inércia se faz necessário uma carga maior de força.

Só que essa energia a mais pode vir de uma forma inesperada, a raiva! Acarretando mudanças sim, mas mudanças que tiveram origem em discussões e mal entendidos, o que não é legal.

Essa grande energia acumulada não deve ser lançada, assim, de qualquer modo, uma raiva bem direcionada pode fazer milagres! Afinal, numa esfera sutil ela não passa disto: energia. E como tal, pode ser usada da forma que quisermos. Infelizmente não fomos acostumados a lançar sobre as pessoas jatos de amor, amizade e compaixão, por isso fazemos o que sabemos: brigar! Pura falta de treino, amadorismo do nosso planeta tão jovem.

No entanto, penso que já estamos cansados de repetir sempre os mesmos erros, pelo menos eu estou e decidi que Agosto não será mais o mês da raiva. Chega de cachorro-louco solto por ai!

Em resumo é isto: a bomba energética está aqui, nas nossas mãos, e só cabe a nós decidir o que fazer com ela. Por isso este mês, mais que qualquer outro, prevalece a nossa decisão, talvez, por isso, ele se chame "à gosto"!


14 agosto 2008

Reta intenção



Diz o ditado que de boas intenções o inferno está cheio! Será verdade?

Segundo a filosofia budista, há 8 caminhos pelos quais podemos buscar nos aperfeiçoarmos. Cada caminho é denominado 'reta', são elas: Reta Consciência, Reta Palavra, Reta Ação, Reta Vida, Reto Esforço, Reto Saber, Reto Recolhimento e Reta Intenção.

Quando pegamos um copo no armário e percebemos que ele não está lá muito bem limpo, logo pensamos "onde a pessoa estava com a cabeça enquanto lavava a louça?" Nunca saberemos, porque, talvez, nem ela mesmo saiba, pois poucos têm o costume de reparar no que faz, muito menos no que pensa. Uma coisa é certa: ela não tinha a intenção de deixar o copo sujo, porém não tinha a intenção de deixá-lo limpo também, pois se esse fosse claramente seu objetivo o trabalho teria saído bem feito. O mesmo acontece com políticos, engenheiros, pais e mães diariamente.

A intenção por trás de cada ato que praticamos faz com que fiquemos cientes de tudo o que fazemos.

Atenção Plena, esse é o objetivo de toda prática e filosofia budista.

Voltando ao ditado lá do início, acho que ele é uma forma de tentar justificar atitudes distraídas (outro nome para negligência). Dessa forma deveríamos mudar a frase para " de gente que não presta atenção no que faz o inferno está cheio."

Essa questão da intenção é tão séria que dificulta até a aplicação das leis. Outro dia ouvia o caso de um pai que antes de pegar a filha na escola, passou pelo bar e tomou uma cerveja (não me lembro a quantidade). Depois de pegar a criança, bateu com o carro e a filha morreu. Trágico não é? É óbvio que ele não tinha a intenção de matar, mas também não estava muito clara na sua consciência a intenção de proteger a criança, que seria sua primeira responsabilidade como pai. E ai? Como aplicar a lei neste caso?

As pessoas não imaginam quão poderosa é uma boa intenção, e do quão prejudicial é a falta dela! Já imaginou se ao invés de simplesmente fazer a comida a mãe tiver a intenção de nutrir de forma eficiente a família? E o estudante que tem a intenção clara de fazer bem feito o seu curso na faculdade?

A boa intenção pode não nos dar garantia de que seremos reconhecidos e bem sucedidos sempre, pois estamos o tempo todo dependentes das intenções das outras pessoas, no trânsito, na política, na educação dos nossos filhos, dos colegas de trabalho. Mas seguramente ela nos traz paz de espírito e tranquilidade, pois sabemos que a nossa parte foi feita e, bem feita.

O hábito de observar nossa real intenção nos coloca como sujeitos autônomos da nossa vida, ou seja, nos liberta do piloto-automático, de sermos maria-vai-com-as-outras. Claro que com a autonomia nossa responsabilidade aumenta muito, pois passamos a ser conscientes do que fazemos, porém isso é infinitamente melhor que fazer as coisas às cegas.


13 agosto 2008

Abobrinhas...



Você já reparou na versatilidade de alguns alimentos? Tê-los em casa é como ter um curinga, nunca ficamos desprevenidos.

Entre os mais conhecidos estão a mandioca, o milho, a batata e a abóbora. São alimentos baratos e encontrados com facilidade em qualquer lugar. Além do mais, com exceção do milho, possuem alta durabilidade.Me encantam estes alimentos, gosto de vê-los na fruteira, de acariciá-los e descobrir em quê eles querem se transformar. Mas de todos o meu favorito é a abóbora, nas suas mais diversas variedades.

Uma vez, quando devia ter uns 14 anos, descansava deitada numa rede, era domingo à tarde. À minha frente estava a horta, com um pé de abóbora imenso se esparramando pelo quintal. De repente, enquanto observava uma flor em particular, desapareceram-lhe os contornos naturais e ela ficou ali, jorrando uma luz clara e radiante, gratuita e feliz.

Com o tempo tendemos a duvidar destas experiências, pois a lógica e o receio do que as pessoas possam pensar a respeito acabam por travar até nossas visões mais bonitas. Então, se vi ou se sonhei, não sei. O que sei é que na minha lembrança ainda vejo a flor da abóbora iluminada, real e radiante como naquele dia.

Desde então, a abóbora tem ocupado um lugar de destaque na minha cozinha e, principalmente no meu prato.

Sendo o seu doce o meu preferido em sabor e beleza. Gosto de fazê-lo calmamente como num ritual, deixá-lo apurando 1, 2 ou 3 dias, dependendo da quantidade de água que a fruta carregar, ficar observando como que com o calor a cor vai se firmando, passando do amarelo pálido a um alaranjado robusto e brilhante. Depois é só colocá-lo em uma compoteira de vidro transparente, pois seria um desperdício esconder tanta beleza.

E o cheiro que fica em casa nestes dias de preparação? Inconfundível e acolhedor: abóbora, açúcar , cravo e alfavaca (segredo de família).

Mas nem só de doce vive essa estrela. Com a variedade 'moranga' também gosto de fazer salada. Cozinho os pedaços em cubo no vapor para que não amoleçam demais, depois de frio tempero-os bem, era a preferida da minha avó e hoje é da minha filha. Para dias mais frios, caldo de abóbora com creme-de-leite e salsão, divino!

E as outras variedades, todas igualmente versáteis e saborosas? A abóbora-paulista fatiada na transversal, bem temperada fatia por fatia e assada na grelha durante um churrasco é perfeita para acompanhar a carne. A abóbora-menina, tenra e verdinha, picada bem pequenininha e refogada com uma pimenta-de-cheiro com arroz e feijão, hummm é magnífica.

Se eu for ficar falando de todas as abóboras e nas infinitas fórmulas de prepará-las este texto não terá fim. Além do que este não é um blog de receitas e sim sobre coisas das quais gosto e que me fazem bem e, que com certeza, a abóbora é uma delas.

09 agosto 2008

Fome de quê?



Quando eu era criança não gostava de comer. Nem eu, nem a minha irmã. Isso era motivo de desespero para o nosso pai que, para nos livrar da inapetência, preparava uma fórmula horrorosa. A receita era o seguinte:

1 vidro de óleo de fígado de bacalhau, a famosa emulsão Scott, 1 de biotônico Fontoura, 2 ovos de pata crus, tudo no liqüidificador.

À vezes ele queria incrementar, então colocava aveia e rosquinhas Mabel! (Atenção, pais, não tentem fazer isso em casa!) Tanto eu quanto a minha irmã, acreditamos que tal gororoba, ou melhor, receita, deu tão certo que temos fome para pelo menos três gerações depois de nós, isso já começo a comprovar pela minha filha.

Não há nada que não gostamos e frases como "me faz mal" ou "tenho nojo", não fazem parte das nossas vidas.

Mas, mesmo gostando tanto de comer, sou uma pessoa da Fome. A escolhi como companheira e mestra, de livre e espontânea vontade, pelo menos depois das 6 da tarde e às segundas-feiras, dia que escolhi para jejum.

Quando nos permitimos sentir fome, estamos nos permitindo conhecer mais de nós mesmo, do nosso corpo e vontades.

Se você está com um grande problema, sai para se divertir, assiste a um filme, namora ou toma um tranquilizante, que pelo menos por algumas horas o esquece. Mas e a fome? Como namorar, assistir a um espetáculo e dormir com ela? Como esquecê-la?

Ela é voraz, não aceita nada menos que todos os nossos instintos e sentidos direcionados a si.

No entanto, o que mais gosto nela é seu efeito contraditório: ao mesmo tempo que debilita, revigora. Há um ditado que diz que 'nos torna lentos e tristes, mas clareia mente e atiça a luxúria'.

Por isso os padres têm fama de glutões. Comer acalma as querências e vontades de todo tipo.

Já a fome desperta os sentidos, nos dá a noção exata de qual a nossa verdadeira fome.

04 agosto 2008

Satisfação



Nos últimos tempos tenho me tornado uma pessoa amarga. Uma amargura que é fruto de uma constante insatisfação. Vivo insatisfeita com minhas não-realizações profissionais, com meu corpo, minha casa, com a política, com a cidade em que vivo... Sei que esse não é um sentimento exclusivo meu, afinal o mundo moderno com todas as suas vantagens e facilidades tem produzido um verdadeiro exército de insatisfeitos.

Além do mais em alguns momentos da vida necessitamos parar para definir metas para o futuro e, para isso se faz necessário um inventário de tudo o que fizemos até então, e o pior, do que deixamos de fazer. Evidentemente que isso gera crise, desconfortos de todo tipo, mas querer melhorar é sempre bom, por isso é bem vinda a insatisfação. O problema é quando ela vira obsessão e esse melhor não chega nunca!

É estressante pensar que nunca alcançamos o ponto ideal, afinal o colocamos cada vez mais alto.

E como a insatisfação cansa! Nos deixa esgotados!

Hoje estou aqui, com o pé engessado, não posso me levantar, nem fazer as coisas que normalmente faria. Minha filha está de férias e neste momento passeia pela rua de bicicleta. As plantas lá fora ficam como que me pedindo para que eu as toque, remexa a terra, tire as folhas secas. Tenho vontades...inúmeras: caminhar, arrumar os armários, cozinhar..., prazeres duvidosos para alguns, mas excelentes para mim!

No meio de tanto o que fazer e a condição limitada em que me encontro me pego num estado que há muito tempo não sentia, me pego satisfeita!

Sabe aquele sentimento de que tudo está bom? Aquele momento de rara lucidez no qual percebemos que tudo o que é importante, de fato, nós possuímos?

A cama quentinha, os travesseiros nas posições certas, a janela aberta, o vento solitário e amigo de Agosto, os cabelos levemente despenteados e, o melhor, o corpo relaxado, livre de qualquer tensão.

Me lembrei de quando era criança e ia pescar com o meu pai, tardes monótonas de domingo em que o ar, o sol, a água e até os peixes pareciam satisfeitos, contentes por existirem!

Nestes momentos é como se entrássemos na essência das coisas. E os demônios da pressa e da falta de tempo ficam sem permissão de nos visitar.

Obviamente que não podemos viver assim neste estado de eterna contemplação, do contrário ainda estaríamos vivendo em cavernas. Contudo, às vezes, é bom pararmos. Se não por vontade própria, por força maior, como no meu caso. Deveríamos nos permitir mais esse luxo que é o ócio, que na medida certa nos abastece de paz e plenitude.

E como há muito tempo não experimentava me senti banhada por uma chuva de contentamento, renovada, refeita. Como a um bebê depois de um banho quentinho e amamentado. Nossa, que coisa boa!

02 agosto 2008

Apenas um sonho



Sonho com cavalos.
Cavalos-esqueletos, cavalos pela metade.
Alguns metade vivos, outros, metade mortos.
Não importa! Todos são velozes
e dominados por uma ânsia, por um querer imenso
que atropela as convenções da falta de carnes,
de músculos e de tendões, até a da falta de vida.
Há o desejo dos campos e isso basta!
Posso ouvir seus relinchos, seus ossos se debatendo...
Não sei...por um instante não sei se são eles, os cavalos,
ou se sou eu, a Patrícia...
Minha respiração ofegante, o suor que cai abundantemente,
o coração que parece saltar pela boca...

Me acalmo, lembrando que é apenas um sonho.
Apenas um sonho, me convenço disso!