24 junho 2008

Alegria de viver



Quando chove
quem fica alegre
tem febre de viver
Mas não pode sair para brincar fora,
por isso brinca dentro: escreve!
Existe sol em si.

19 junho 2008

Questão difícil



Coisa complicada é saber qual o modo correto de lidar com os filhos, principalmente quando estes já não são mais bebes e, não podemos simplesmente dizer 'não' e pronto! Com a idade eles querem explicações cada vez mais complexas, muitas das quais nem possuímos.

A questão do consumismo é uma delas! É muito fácil para nós, adultos, aceitarmos que aparência não é tudo e que têm milhares de coisas mais importantes do que ter o tênis ou o celular da moda. Isso porque fomos amadurecendo esta idéia ao logo da vida, passamos por várias situações que já comprovaram isso e também porque, bem ou mal, já construímos a nossa identidade. Ou seja, sabemos que temos um valor, um caráter, independente de onde moramos, do que vestimos e de qual carro andamos. Quem nós somos de fato é muito superior a tudo isso.

Mas e para eles, os adolescentes? Será que a questão é tão simples assim? Afinal, quando não se tem experiência de vida e não se tem um lugar bem definido nesta mesma vida, o que resta senão a aparência?

Tudo na vida de um jovem é um livro em branco, pronto para ser escrito, mas ainda em branco. A única coisa que ele realmente sente é que precisa ser aceito pelos outros jovens da sua idade. E como tão bem explica Caetano na música Sampa, "...porque Narciso acha feio o que não é espelho". Ou seja, só somos aceitos quando somos identificados como iguais àquele grupo, do contrário somos excluídos e vivemos à margem. Justamente o que o adolescente mais teme!

Porém, mesmo sabendo de tudo isso, será que é correto dar tudo o que eles pedem? Penso que não! Mas como é difícil dosar o limite certo do consumo, que extrapola, em muito, a questão utilitária.

Na dúvida faço como o meu pai que me testava bastante para ver até que ponto eu realmente queria esse ou aquele objeto. E depois de dá-lo não cansava de repetir:

" Ficou lindo, porém não se esqueça de que há coisas mais importantes na vida! E que você é muito maior do que qualquer objeto que possa desejar".

No mais fico torcendo para que de mim tenha saído um ser humano melhor, e que com o tempo os seus valores possam acompanhar tanto o seu desenvolvimento físico quanto o intelectual.

09 junho 2008

Cantando sobre os ossos



Em espanhol, as curadoras, senhoras simples, na sua maioria enrugadinhas de tanto sol e poeira, são chamadas de "las hueseras", ou seja "as osseiras". Este nome diz respeito as sua principal função:escavar no inconsciente da pessoa enferma até encontrar os ossos, aquele lugarzinho só nosso, que muitas vezes nem mesmo sabemos que existe. Porém que nunca desaparece completamente. Assim como os ossos, podem ficar sufocados na escuridão da terra, mas permanecem lá: firmes e fortes. Por meio de palavras, gestos, orações, encantamentos, las hueseras chamam a vida de volta. Cantar sobre os ossos é isso, dar vida aquilo que parecia morto.

Numa das histórias bíblicas que mais me comove, Deus aparece falando com seu profeta Ezequiel para que este se dirija a um Vale de Ossos Secos e que profetize, fale, a eles.

Imagina a situação: um homem discursando a um monte de ossos no meio do deserto. Porém, por mais louco que parecesse, Ezequiel foi. E a beleza maior se dá quando, enquanto o profeta fala, naqueles ossos vão se formando os ligamentos, os tendões, as carnes, depois a pele e quando ele percebe há um exército de homens inteiros e de pé diante de si!

A lição é que maravilhas acontecem quando acreditamos nos nossos sonhos. Que podemos educar pessoas aparentemente limitadas, que com amor, disposição e boa vontade temos a capacidade de mudar vidas, tornar receptivas pessoas embrutecidas.

Coisas incríveis acontecem quando levamos adiante um ideal, aparentemente impossível aos olhos dos outros, porém que vibra intensamente dentro de nós. Esse ideal é a própria voz de Deus, mesmo que ninguém mais ouça,o que provavelmente vai acontecer pois essa é uma missão pessoal, única e intransferível.

O Vale de Ossos Secos nos fala também sobre não procurar condições externas favoráveis para que esse sonho aconteça, mas sim que temos que criar essas condições com as nossas próprias mãos ou palavras.

05 junho 2008

Fantasias



Ando traumatizada com a idéia de que não possuo fantasias eróticas. Será isso normal ou é sinal de problemas mais sérios?

Às vezes acho que deveria pensar mais no assunto, porém o dia é tão corrido: estudos, casa, filha, animais, supermercado, contas...que não sobra tempo para mais nada.

Não quero dizer que não sinto desejo, talvez o tenha transferido para as coisas simples do dia-a-dia. Um simples bate-papo à mesa, na hora do banho ou no aconchego da cama. Gosto dessas banalidades que para mim são delícias da convivência. Isso me excita demais, por isso vinculei sexo à casa, intimidade, aconchego.

Credo, como sou limitada!

Não sei em que ponto da vida fui deixando de ter tais fantasias, e se um dia as tive, me lembro de muito pouco. O que sei é que me tornei uma pessoa prática, porém que não deixou de ser romântica. Meus sonhos têm a ver com olhares trocados nos momentos mais corriqueiros, com palavras de cumplicidade, com sorrisos de aceitação, com o pegar nas mãos, com cafuné, uma flor colhida na rua, com um doce de padaria, ou simplesmente pela disposição em me contar e ouvir como foi o dia. Tudo o que proporciona uma atmosfera de intimidade e compromisso. Acho até que sou bem romântica!

Mas penso que sexo por pior que seja é sempre bom, porém que não consigo dissociá-lo de amor. Sofro dessa doença antiga!

Contudo, me disponho a pensar mais sobre o assunto. Explorar esse campo de infinitas possibilidades chamado prazer.

03 junho 2008

A dose certa das coisas



Segundo muitos estudiosos o homem é naturalmente infiel e, por isso, a monogamia vai contra a nossa natureza. Se olharmos do ponto de vista biológico esta teoria tem toda a razão de ser, faz parte do nosso instinto de preservação sentir-se atraído por seres saudáveis e belos. Quando olhamos por este ângulo tendemos a compreender e, até aceitar que a infidelidade e a poligamia existam.

Mas por que será que se prega tanto a monogamia, a ponto de ser crime em nosso país ter mais de um cônjuge? E por que assuntos como traição dão tanto ibope?

Porque a questão da fidelidade implica em um aprimoramento do espírito, em seu refinamento!

É como se chegássemos diante de uma mesa farta de um restaurante self-service e tivéssemos a disciplina e a sabedoria para colocar no prato apenas o suficiente, o que combina, o que cai bem.

É compreender as palavras de São Paulo: "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convêm". Superar tendências instintivas faz de nós seres melhores.

Há uma satisfação indescritível quando deixamos de comprar aquela bolsa lindíssima, porém que não necessitamos, quando resistimos a repetir o prato, por melhor que a comida esteja, pois já estamos saciados e quando olhamos na academia para aquele monte de corpos lindos e cheios de vida e sentimos que aquela imagem é belíssima, sem dúvida, porém que não faz o nosso coração vibrar. Mas que há uma pessoa, que como qualquer outra tem seus defeitos e qualidades, porém que é com ela que decidimos compartilhar a nossa vida e estamos dispostos a muitos sacrifícios.

Não é assim com os filhos? Ou será que quando vemos filhos mais bonitos, mais inteligentes ou educados que os nossos desejamos trocá-los? Impossível!

Em tudo há que se encontrar a dose certa das coisas, visto que o exagero faz com que percamos nossa autonomia. E por que é tão importante ter autonomia? Porque ela sinaliza que estamos usufruindo da liberdade com responsabilidade, ou seja, que somos donos de nossos próprios instintos e desejos e não o contrário.

Será que aqueles casais maravilhosos, que invejamos tanto, com seus 30, 40 anos de casados, nunca passaram por tentação alguma? É óbvio que sim, mas há neles espíritos fortes o suficiente, para terem domínio-próprio e para saberem o que querem.

Quem é realmente uma pessoa poderosa? Aquela que obtém domínio sobre sobre suas paixões ou aquela que se deixa levar por prazeres imediatos e passageiros?