10 novembro 2010

O que é cuidar?

  
   No convívio diário, e intenso, com pais e filhos, muitas vezes me pego pensando na quantidade de 'modelos' de cuidados  e afetos que presenciamos. Não saberia dizer se há um superior ao outro. Apenas como curiosa observo as diferentes relações entre pais e filhos.
Como são. Como se comportam. O que valorizam.
   Como todo mundo que trabalha com crianças (educadores, pediatras, psicólogos...), sabemos que, em bem pouco dos casos, o problema se encontra na criança, na maioria das vezes a fonte de todo problema são pais.
Criança é uma maravilha. Trabalho que não dá trabalho! Cansa como ir à Disney, pescar ou passar o dia andando no shopping.
Trabalho nos dão os pais! São tantas manias, costumes e até toques, confundidos com 'cuidados', que fica difícil distinguir onde termina um e começa o outro.
   Notamos que para muitos a ato de ter que cuidar do filho: preparar sua alimentação, lavar suas roupas, dar a papinha é um verdadeiro fardo. Motivo até discussões entre os pais para demosntrar ''quem faz mais'. Claro que se perguntarmos se a pessoa se arrependeu, jamais ela dirá que 'sim'. E tenho certeza de que não está mentindo! Mas podemos ver o estresse estampado no rosto e a sensação de que 'não se está vivendo como gostaria' ou estava acostumada.   A questão é o tanto que cada um suporta de sobrecarga em sua rotina. A chamada resiliência. Capacidade de se adequar às mais diversas situações, sem fazer dessas novas situações um drama. Nem todos conseguem isso. E realmente saber lidar com mudanças e adaptações não é tarefa fácil.
     A questão do 'cuidar', de quem cuida e de como cuida é extremamente delicada, pois não há padrões que definem o que é uma criança bem cuidada de uma mal cuidada. Costumamos olhar para uma criança limpinha, suas roupas, unhas, cabelos, tudo ok e dizer: que mãe cuidadosa! Tudo bem, é um tipo de cuidado, sem dúvida. Mas há outros, muitos outros!
  Noto que há mães que cuidam da higiêne dos seus filhos, porém não são obsessivas com isso e permitem que a criança se lambuzem com um picolé, com a macarronada ou mesmo desfrutem de um bom banho de lama. Tudo com olhar divertido e sem neuras! Outras nem ligam tanto para a higiene, cabendo a nós o aparar das unhas, o limpar as orelhas e lavar bem os cabelos, porém são pais maravilhosos, se preocupam com o que está sendo dado de estimulação para a criança, como é o relacionamnete interpessoal entre esta e os demais  membros da escola.
Outros ainda nem trocam a criança de roupa, do jeito que pegam no final do dia as trazem no dia seguinte. Afinal elas já estão de banho tomado. Esses priorizam o tempo junto com a criança fazendo outras atividades, nem que sejam largados no sofá, mas junto com seus filhos. São normalmente pessoas tranquilas, que não demonstram insatisfação com a vida, nem ficam procurando "pelo em ovo" e transmitem uma saúde psicológica muito boa  à criança.
      Portanto não há como julgar. O ideal que todos tivessem uma combinação de todos esses 'cuidados', sem exagerar em nenhum deles.
    Se preocupar com a higiene é sem dúvida um passo importante já que se relaciona diretamente à saúde física.
     Mas e a saúde mental, emocional, social?
     Segundo a Organização Mundial de Saúde, OMS, uma pessoa só é considerada saudável se ela preenche todos estes quesitos: saúde física, psicológica e social . Se um desses três pilares ficarem comprometidos, com o tempo resultará em uma doença física, emocional ou social.
Como tudo na vida o melhor que há é o tempero na medida exata: nem limpeza confundida com toque, nem socialização confundida com baladas em excesso. Nem a pressão psicológica a que vemos muitas crianças submetidas: guerras e chantagens emocionais entre os pais, convívio intenso com pessoas depressivas ou que tenham algum problema como transtorno bipolar, compulsão, entre outros. Um pai ou uma mãe que deseja realmente 'cuidar' de seu filho, tem que antes de tudo se cuidar. Ser pai e  mãe de si mesmo.
    Procurar se conhecer e analisar se possui condições emocionais de cuidar de uma criança, pois muitas vezes a vontade só não basta. Há que se olhar friamente e perceber: estou sendo saudável ao meu filho, estou cuidando de fato, ou apenas estou mantendo a 'aparência de cuidado'.