17 julho 2008

Do comum ao herói



Para Jung a maior realização do ser humano é encontrar-se com a sua essência, na linguagem psicanalítica com o 'Self'. E esse processo de encontro da alma e purificação do Ego, dá-se o nome de Individuação.

Há um contraponto ai: Alma X Ego. A Alma como sendo aquilo que é eterno, verdadeiro, incorruptível; o Ego as nossas máscaras, vaidades, as mentiras nas quais gostamos de acreditar. Dai palavras como 'egoísmo', 'egocentrismo' e tantas outras que designam uma vida voltada apenas a si mesmo. Há uma diferença enorme entre cuidar da própria vida e ser egoísta, entre tornar-se indivíduo e tornar-se egoísta.

Porém, o caminho até a alma é difícil, não se chega facilmente, dai que muitos desistem. A alma é geniosa, difícil de agradar, gosta de carne viva, nervos expostos, gosta de suor e lágrimas, do limite das nossas forças para poder se mostrar. Por isso as epopéias dos grandes heróis, a importância das narrativas históricas na formação de uma caráter forte nas crianças e nos adultos também, por isso que continuamos assistindo a Indiana Jones. O homem comum não possui fibra suficiente para empreender tal 'viagem', que nada mais é que a busca pela Alma, pelo processo de Individuação, coisa para superman de verdade!

Já o Ego, como bom demônio, sugere o caminho mais fácil. É a nossa própria mente tentando nos ludibriar para que peguemos o atalho, para que deixemos para depois, para que relaxemos justamente na hora em que mais deveríamos estar alertas. Entende?

Outro dia ouvia uma conversa no trem entre duas amigas. Uma dizia a outra sobre o seu namoro, que ela não levaria o relacionamento à sério porque o outro não a levava à sério. Que triste isso! Acho que essa pessoa nunca terá uma relação satisfatória enquanto não aprender que toda história bonita, por fim, começa dentro de nós mesmos. Somos nós quem injetamos grandeza, significado às coisas, elas por si mesmas não são boas nem ruins.

Mas só nos tornamos capazes de fazer isso passando por cima das vaidades e aparências do ego.

O ego é a criança mimada que diz: "eu quero porque quero!". A alma é o ser responsável, que sabe o que está por trás de cada desejo, de cada querer, desde uma posição melhor no trabalho a um relacionamento.

O conhecimento do Self ou da Alma é que nos proporciona relacionamentos amplos, duradouros e saudáveis .

Habitamos no efêmero, é verdade, mas ele não é nosso lar de fato. Como alma imortal ansiamos pelo infinito, pelo verdadeiro e pelo eterno.

Olho para a imensidão do céu, origem e destino, e sei que não posso me contentar com pouco, com joguinhos do ego. Só nos contentamos com o fogo-de-palha quando damos ouvido ao ego, esse infeliz demônio pessoal que todos possuímos.

07 julho 2008

Das coisas que eu não entendo



Dias desses fui a um culto em uma igreja pentecostal com uma amiga. O culto começou normal: leitura bíblica, louvores, aleluias...até ai nada de novo.

A um certo momento o pastor mudou o tom da voz e falou que naquele momento Deus o estava 'usando' para que fizesse algo diferente. Nesse momento começou uma música muito repetitiva, como um mantra. Percebi que a letra era o que menos importava, apenas servia de mote ao ritmo contagiante e hipnótico que seguia incansavelmente. Quando dei por mim, aquele espaço de aproximadamente cem metros quadrados, lotado, estava tomado por pessoas em transe.

Via rapazes dançando com passos seguros e precisos, cada qual de um jeito, mas havia sincronicidade. Faziam-me lembrar de cenas vistas em filmes de rituais antigos acontecidos em alguma tribo perdida do globo.

A pessoa que acompanhei, conhecida de longa data, sempre séria e racional havia se transformado inteiramente.

Mais da metade da igreja foi tomada por aquela força, cada qual de um jeito único e surpreendente. Alguns se arrastavam pelo chão como serpentes, outros desmaiavam, choravam, sorriam, davam pulos. Porém não havia pânico, nem insegurança, como se tudo aquilo fosse a coisa mais esperada e natural do mundo.

Fiquei de boca aberta! Até agora não sei dizer o que se passou. Fiquei paralisada contemplando aquele espetáculo no mínimo surreal, no qual homens de gravatas e mulheres de saias longas se entregavam ao 'Poder de Deus', como alguém tentou me explicar depois.

O homem é o mesmo em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo. Desde as capitais mais modernas às tribos mais distantes existe manifestações como esta. De onde ela vem? Para que serve? Qual a finalidade destes estados alterados de consciência? Realizar uma catarse? Destravar o subconsciente liberando traumas e despertando a criatividade? Não tenho as respostas!

Sou extremamente racional, até mais do que gostaria, para me permitir experimentar certas coisas.

Namoro com um grupo de Estudos Xamânicos, mas apenas na teoria, pois o medo do que não conheço não me permite participar de seus rituais, nos quais as pessoas são tomadas pela cadência dos tambores e pelos efeitos de plantas sagradas como o peyote e a ayhuasca. Confesso que me atraem, principalmente a música. Por isso mesmo fujo. Quem sabe um dia eu compreenda melhor.
Realmente há muitas coisas que não entendo!