23 novembro 2013

Uma reflexão sobre o karma Pode parecer exaustivo. Afinal há muitos e infinitos livros e artigos sobre o tema. Mas estas são reflexões, ou percepções, particulares a respeito desse assunto. Sempre pensei que Karma fosse algo grande. Tipo um único pacote. Ou uma única peça. Como a Cruz de Cristo. Então, minha grande, e única missão neste planeta, seria descobrir qual o meu karma e daí em diante encontrar o melhor modo de lidar com ele. Fazer do limão uma limonada. Em um determinado ponto da minha vida, peguei-me com tantos problemas que não sabia por onde começar a solucioná-los. Para todo lado em que olhava, havia complicações. Problemas de todas as ordens e tamanhos: materiais, físicos, familiares... Desde coisas aparentemente simples como uma infiltração na parede ou um armário que há muito não limpava, como mais complexos como um divórcio e uma empresa falida. A situação era tão complexa que em meio a tanto o que fazer, acabava por não fazer. Prostrada, via os dias passando sem conseguir sair do lugar. Não porque não quisesse resolver. Mas porque não sabia como. Não falo de pessoas acostumadas a viver ‘no rolo’, que agem conscientemente à respeito das consequências de suas más ações. Falo de uma pessoa (eu) que foi criada de acordo com princípios sérios de respeito ao próximo e observância às leis. Mas que, por razões alheia a sua vontade, viu-se envolta em problemas de toda ordem. Não quero excluir, contudo, a minha responsabilidade sobre a situação! Só deixar claro que não foi consciente (e aí está o grande mal: agir reativamente e inconscientemente). Mas vamos adiante... De tanto perguntar ao Universo: Por que eu? Por que comigo? Me deparei com uma importante, ou talvez a maior lição da minha vida: justamente o aprendizado sobre o meu Karma. Um dia, pedindo orientação a uma entidade chamada de Preto Velho, rezei diante dele todo meu rosário de tragédias, e ele, com toda simplicidade, me falou: “Misi fia tem qui puxar um fio di cada veiz”. Saí de lá furiosa..Queria que ele me desse um manual de como lidar com meus problemas. De qualquer modo, essas poucas palavras ficaram ecoando dentro de mim: “Um fio de cada vez”. E vai eu estudar Feng Shui, quem sabe a explicação não estaria na disposição da minha casa na planta cósmica, ou na disposição dos cômodos e móveis...Mas os problemas maiores eram tão urgentes que me consumiam e me deixavam sem forças para pensar nessas coisas menores, tipo a cor certa para o área dos relacionamentos ou a forma geométrica da área do sucesso...Não! Acredito piamente na sabedoria Oriental, mas agora não era hora para detalhes. Estudando a Kabbalah me deparei com o conceito de Tikkun, ou Conserto ou Reparação. O equivalente judaico do conceito de Karma. Essa palavra “Conserto” me soava mais próxima, pois sempre gostei da ideia de reparar as coisas, ao invés de trocá-las por novas... Que temos que consertar a alma originalmente sem defeitos, ou comportamentos reativos em vidas passadas. Mas o problema era: qual tikkun? A resposta: Não temos um tikkun para reparar, temos vários Klipot (cascas) como uma cebola. Isso me desesperou! Pois esperava um trabalho hercúleo, ou um uno golpe de misericórdia que destruísse o tal do karma definitivamente! Mas os problemas eram urgentes e grandes. E de tanto olhar para eles me prostrei diante da incapacidade de solucioná-lo. E dia após dia zumbizava à base de Rivotril, ou enfiando a cara no trabalho até à exaustão, esperava que com o tempo (que cura quase tudo) o problema se resolvesse por si mesmo. Estudava sobre várias religiões, como se cada uma fosse um lindo romance para ser desfrutado, mas não aplicado à vida prática. E o tempo foi passando e além de os problemas não se resolverem, se multiplicaram... Percebi que havia chegado em um beco cósmico sem saída. A questão do meu karma pessoal havia me encurralado contra mim mesma, como a esfinge egípcia: Decifra-me ou devoro-te! Um dia, lendo um livro do mestre budista Shunryu Suzuki, que caiu-me nas mãos “por acaso”. Li: “Um tigre usa toda a sua força para pegar um camundongo”. Em meu modo de vida capitalista ocidental pensei: “Que desperdício! Temos que ‘economizar’ energia, ou despender exatamente a energia necessária para cada caso”. Mas quem foi que disse que por trás de uma coisa simples, não se esconda uma complexa? Ou que um problema, aparentemente fácil de resolver não se transforme em algo complicado? E não era isso que justamente estava acontecendo comigo? De repente entendi porque os budistas usam a mesma concentração e diligência tanto para limpar um banheiro quando para compreender um complicado sutra antigo: Não existe problema maior ou menor, existe problema. E este é para ser resolvido, com igual esforço e dedicação. Ele diz: “Se você sabe que há algo errado com seu carro, pare-o imediatamente e dê um jeito nele. Mas, geralmente, não fazemos isso. “Ah, é só um pequeno problema. Ele ainda está andando. Vamos embora”. Esse não é o nosso caminho! Ainda que seja possível continuar dirigindo o carro, deve-se cuidar muito bem dele. Se você levar o carro até o limite, os problemas continuarão piorando, até que finalmente ele não sairá mais do lugar...” Essa era a minha vida, esse carro. Assim, embora seus problemas do cotidiano sejam pequenos, se você não souber como resolvê-lo você terá muitas dificuldades. Essa é a lei do Karma. O Karma começa a partir de coisas pequenas, mas, com a negligência, o karma ruim cresce. O que sei é que toda religião é bonita, desde que seus praticantes façam aquilo em que dizem acreditar. Quando se persegue o karma diligentemente, ele é conduzido numa boa direção e evitamos assim sua natureza destrutiva. E conseguimos isso prestando atenção à natureza dos nossos problemas. E como disse meu querido Preto Velho: Não importa o tamanho do emaranhado. Comece puxando um fio por vez, separando, desfazendo os nós... Ou como o feng shui tentava me explicar: arruma cada área da sua vida, todas precisam de reparo e atenção plena. Todos sabemos como a bagunça se aloja numa casa: um dia deixamos o sapato sem guardar, depois o copo do lado da cama, depois uma camisa na cadeira, um prato na pia e mais outro, outro... Reparar é a nossa rotina diária. Não deixar para depois. Encarar o que tem que ser feito o quanto antes. Trabalhar e trabalhar, quer seja para reparar um corpo em desequilíbrio que já apresenta ‘problemas’, ou uma vida financeira arruinada. Com diligência e paciência chegaremos lá. Nem todos tem um karma de digno de cinema, mas todos têm o karma de reparar as pequenas desordens que deixam pelo próprio caminho.