17 junho 2014

Cantando em silêncio


Sentada com a coluna ereta, ou mesmo deitada, quando estou muito cansada. Habituei-me à quietude desde criança. Nunca investiguei se foi por algum tipo de medo. Mas essas posições físicas de sentar-me ou deitar-me imóvel por horas, são extremamente naturais para mim. Mal consigo perceber a minha respiração. Na verdade, vou diminuindo o fluxo vital ao mínimo possível, numa experiência bem próxima à morte. Sinto desligando-me de mim ou daquilo que chamo de “mim”: meu corpo físico.
Nesse estado, posso ver as esferas mais altas do globo celeste. Mas também posso ver o meu interior: coração, garganta, cérebro, rins, fígado, as glândulas tireoides, pineal, o timo e posso vislumbrar meus ossos.
A experiência com os ossos é das mais bonitas e ricas que já vivenciei. Aprendi que a cura só realiza-se a partir deles. Vejo muito sentido nisso. Afinal, o sangue é produzido dentro dos ossos na medula óssea, conhecida popularmente por tutano dos ossos. Trata-se de tecido líquido, parecido com uma esponja cheinha de sangue. Apesar do nome, “medula óssea” não tem nada a ver com a medula espinhal, que fica na coluna vertebral e faz parte do sistema nervoso.
Nos primeiros anos de vida, todos os ossos têm capacidade de produzir sangue, mas conforme crescemos, apenas os mais longos - como o fêmur da perna e o úmero do braço - e os mais achatados - como as costelas e o osso do quadril, entre outros - continuam fabricando essa substância. A fábrica medula óssea não para nunca de trabalhar, porque o sangue vai se renovando. Em média, o ciclo de vida de cada célula sanguínea é de quatro meses. Enquanto algumas vão morrendo, outras vão sendo produzidas para substituí-las. Quando essas células estão totalmente formadas e maduras, soltam-se da medula óssea e penetram na rede de vasos sanguíneos do corpo, irrigando e levando vida ao ser humano. Ou seja, todo o corpo humano, quer seja interna ou externamente vai se renovando. Os ossos também, embora em uma velocidade bem menor.
A coluna espinhal é nosso primeiro órgão a ser formado e, a partir dele os membros se desenvolvem. Morremos, e a única coisa que sobrará por um bom tempo serão eles, os ossos.
De modo, que percebo uma clara relação entre as ditas “maldições” transmitidas de pais para filhos por meio dos ossos. E também com as pragas e trabalhos de maldade que são incrivelmente resistentes de serem retirados. É que muitas vezes queremos curar a carne, ou o sangue, enquanto que o problema é mais profundo e forte. “Pegou”-se aos ossos.
Cantando sobre os Ossos podemos desfazer todos os tipos de magias, quebrantos, feitiçarias e males genéticos, tanto espirituais quanto físicos.
É como chegar ao cerne do problema. À raiz do mal e só assim, poder eliminá-lo. Claro que sempre dentro da vontade divina e do livre-arbítrio da pessoa que será “cantada”.
Cantamos para tirar o “encanto” e encantar novamente aquela vida de sonhos, vigor e força.
A pessoa com quebranto, quebrantada ou com mal-olhado sente fraqueza. É como se fosse feita apenas de massa. Mal consegue sustentar seu próprio peso. Não caminha, arrasta-se. E muitas vezes, sente uma dor generalizada pelo corpo, como se fosse uma febre interna, porém que não pode ser medida, pois não está nas partes aquosas (carne, sangue, órgãos) do corpo, está nos ossos. E eles queimam. E o diagnóstico não é possível de ser identificado.
Nas crianças com quebranto muito forte, chegam a ficar apenas pele e osso e se não forem ‘cantadas’ a tempo, morrem. Muitos chamam de mal de simioto e acreditam que a origem seja a desnutrição ou intolerância à lactose, quando, na verdade é um quebrando profundo ou uma maldição de nascença. Tanto que não são raros os casos que foram curados com benzimentos, principalmente em muitas regiões com assistência médica deficiente. Não vou alongar-me nessa descrição das crianças com esse tipo de problemas, pois é bem extensa a explicação.
Maldição existe?
Escuto muita gente que diz não acreditar em maldições. Seria como dizer que não acreditam em energia. Maldição é energia na sua forma negativa É como se fosse uma radiação. Não um veneno. O veneno pode ser vomitado, excretado, pode levar à morte, Mas é bem diferente da radiação. Essa, mais uma vez, é prova de que tal energia fixa-se nos ossos das pessoas. Quem estuda os elementos radioativos sabem que existem vários graus de radiação. E que cada substância leva um tempo para desaparecer em contado com o corpo humano. Do mesmo modo a energia maléfica/maldição ou quebranto também tem um tempo de duração, infelizmente esse tempo pode ser bem longo. Tem radiações/maldições mais leves e tem as mais fortes.
E aí a pessoa pode me dizer: como que “Cantando sobre os Ossos” podemos curar uma pessoa?
É simples. Pela imensa e poderosa energia do som. Não apenas a mera repetição de palavras. Mas o som entoado que, por misteriosos canais, fazem vibrar nossas células até os ossos.
Além disso, não posso negar que existe o ‘dom’. O dom da empatia. A cantadora ou cantador pode ‘sentir a pessoa’ em sua totalidade, em seu sofrimento e ir modulando a entoação da reza ou canto conforme a necessidade de cada um.
É uma compreensão que mistura intuição, fé e também a complexa compreensão das energias, da radiação. Do mesmo modo que uma praga entrou pelo som, ela sairá pelo som. O antídoto é o próprio veneno. Moisés exemplificou-nos isso com a Serpente de Bronze e, sempre que penso nesta imagem: uma serpente de bronze, penso na rigidez de uma coluna vertebral, tanto que ela foi colocada em um lugar onde todos pudessem ver: mirá-la, contemplá-la para serem curadas. A coluna está no alto, ou melhor, nosso centro energético.
Ao Cantar, não apenas emitidos os sons, mas magnetizamos esses sons com amor, com muita misericórdia pelo outro e por nós mesmos, mas também fazemos movimentos que acompanham o timo de cada canto, formando uma dança, que só quem canta consegue sentir e perceber. O nosso ventre se move, e cada célula do nosso corpo pode sentir a energia circulando, primeiramente do centro da Criação ou trono Divino de onde se origina toda vida, passando por cada célula do corpo de quem canta e chegando ao paciente e libertando-o de tal fardo.
Quando a cura se dá no âmbito ósseo, ela realmente é efetiva.
Cantar é o mesmo que rezar. Porém, gosto mais do primeiro termo, por ser mais completo, por envolver ritmo. Podemos dizer que o canto é uma ressonância magnética. Ressoa em todo corpo até atingir, com seu magnetismo, os ossos enfermos.
Como todo tratamento, nem sempre a cura se dá em uma única dose. Como já disse anteriormente dependerá de muitos fatores: do grau de energia condensada que encontra-se ali solidificada, da permissão divina e da vontade do paciente de ficar curado.
Cantando sobre os ossos, eles votam a ficar limpos e a produzir sangue limpo e puro. Posso dizer com muita alegria e emoção que eles ficam lindos e brilhantes, na verdade resplandecentes e a pessoa recupera o vigor e ânimo.

O mundo precisa de mais cantadores. Precisa de pessoas que percebam que a crua para maioria dos males espirituais, encontra-se nos ossos.